Com este volume sobre a artista Gabriela Machado, a coleção ARTE BRA chega à sua nona edição. Sua obra é marcada pela experimentação que se faz presente na diversificação de suportes e técnicas: pinturas, gravuras, desenhos, fotografias, colagens e, recentemente, esculturas.
O texto inédito foi escrito pelo crítico e curador Ronaldo Brito, que acompanha o trabalho da artista há muitos anos. Ronaldo chama a atenção para a “imponderável disciplina do improviso” que potencializa a “visibilidade do mundo”, e que marca a obra da artista desde as primeiras pinturas até as recentes esculturas. Os textos críticos reeditados, de Paulo Venancio Filho, Alberto Tassinari e Frederico Coelho foram escritos no contexto específico de exposições, mas são perfeitamente compreensíveis se olhados em relação ao conjunto da obra.
O caderno da artista apresenta colagens produzidas entre o final de 2015 e o início de 2016, construídas com recortes de jornais e em seguida pintadas pela artista.
A entrevista foi realizada no ateliê da artista com a presença de Frederico Coelho, do músico Aleh Ferreira e do crítico de arte português Jorge Espinho. Junto com a cronologia, organizada por Julia Pombo contribui para a compreensão do desenvolvimento do fazer artístico de Gabriela, arquiteta de formação e frequentadora de cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage durante a década de 1980. Desde o final desta década até os dias de hoje, a artista realiza exposições individuais e coletivas, bem como viagens, residências artísticas, prêmios e projetos, em diferentes instituições culturais. Por fim, a bibliografia recupera textos e vídeos produzidos por Gabriela ou sobre o trabalho dela.
Capa
Apresentação
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GABRIELA MACHADO nasceu em Joinville, Santa Catarina, em 1960. Sua produção foi iniciada no Rio de Janeiro, em meados dos anos 1980, a partir de aulas de pintura, desenho, gravura em metal, litografia e diversos cursos teóricos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, após a formação acadêmica em Arquitetura e Urbanismo. A obra da artista tem sido exposta em instituições nacionais e internacionais, como Centro Cultural Banco do Brasil e Paço Imperial (Rio de Janeiro), Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte) e Instituição Carpe Diem (Lisboa, Portugal).
O processo criativo de Gabriela Machado está intimamente ligado à vivência prática do fazer, da relação com os materiais, e com as linguagens resultantes – desenho, gravura, pintura, escultura e fotografia. A artista se mantém aberta à inclusão de novos meios e ao aprendizado de técnicas, revendo seu entorno tanto quanto o próprio trabalho, sem perder os fios condutores de suas pesquisas. Uma obra que se completa pelo conjunto, desde a ação enérgica da tinta no quadro, as formas densas com espírito casual e espontâneo das esculturas, até a delicadeza do registro incansável do olhar fotográfico.
“Um experimentalismo despretensioso, que exige uma atitude de permanente disponibilidade, e ainda reservas consideráveis de energia plástica, atravessa a obra de Gabriela Machado desde as suas perecíveis Pinturas de café até as recentes esculturas esdrúxulas. Inexistem etapas ou estudos preparatórios porque inexiste antevisão: de saída, a artista se envolve com técnicas e materiais recalcitrantes em busca de formas que parecem resistir, a todo custo, a tomar forma. O frescor dessas descobertas, quase sempre solares, deriva, pois, de certa agonia. Só o empenho desmesurado e a imponderável disciplina do improviso podem solucionar o dilema de cada súbito aparecimento.”
Ronaldo Brito
Luiza Mello e Marisa S. Mello
PINTURAS, ESCULTURAS: VOLÚVEIS E VORAZES
Ronaldo Brito
Paulo Venancio Filho
Alberto Tassinari
Frederico Coelho
UM "OLHAR VIAJANTE", CRIANDO SEMPRE
Jorge Emanuel Espinho
APRESENTAÇÃO
Luiza Mello e Marisa S. Mello
Com este volume sobre a artista Gabriela Machado, a coleção ARTE BRA chega à sua nona edição. Foi um prazer investigar a trajetória de Gabriela e descobrir as motivações do seu fazer artístico. Sua obra é marcada pela experimentação que se faz presente na diversificação de suportes e técnicas: pinturas, gravuras, desenhos, fotografias, colagens e, recentemente, esculturas.
O texto inédito foi escrito pelo crítico e curador Ronaldo Brito, que acompanha o trabalho da artista há muitos anos. Ronaldo chama a atenção para a “imponderável disciplina do improviso” que potencializa a “visibilidade do mundo”, e que marca a obra da artista desde as primeiras pinturas até as recentes esculturas.
Os textos críticos reeditados foram escritos no contexto específico de exposições, mas são perfeitamente compreensíveis se olhados em relação ao conjunto da obra. Em Vermelho, produzido em 2002 para a exposição no CCBB Rio, Paulo Venancio Filho discorre sobre os desenhos vermelhos em que a cor “consistente, carnal, excessiva, intensa, veemente, invasiva” se agarra ao gesto de pintar, enfatizando-o e afirmando-o, em contraste com a insubstancial escultura de papel higiênico apresentada na rotunda, que se aproxima mais da leveza, discrição e imaterialidade.
Alberto Tassinari, em texto escrito em 2006 para a exposição individual Pinturas, na Galeria Virgílio, reconhece nos trabalhos uma abstração que não é pictórica, nem linear. O título, “Tinta ao alvo”, remete às pinturas e desenhos que miram uma espécie de alvo, entre o centro do quadro e as figuras arredondadas que seus trabalhos representam.
Para a exposição realizada no Centro Cultural São Paulo, em 2011, o historiador Frederico Coelho produziu o texto “Força bruta”, referindo-se à maneira como a artista utiliza a cor em sua “plena potência física e poética”. Gabriela se apropria do ritmo, comum a dois dos mundos onde ela busca referência, o das artes visuais e o da música. Para Frederico, “há nesses trabalhos e na obra de Gabriela Machado uma alegria incontida de braços dados a uma fruição contemplativa”.
Jorge Espinho usa a expressão “olhar viajante”, da própria Gabriela, para definir a liberdade com que ela transita entre os meios, demonstrando um olhar múltiplo, que recua ao que a artista já vinha fazendo e avança a cada novo trabalho, em direção ao futuro.
O caderno da artista apresenta colagens produzidas entre o final de 2015 e o início de 2016, construídas com recortes de jornais e em seguida pintadas.
A entrevista foi realizada no ateliê da artista com a presença de Frederico Coelho, do músico Aleh Ferreira e do crítico de arte português Jorge Espinho. Nela, Gabriela fala sobre suas referências, oriundas de diversos campos das artes, que mobilizam corpo, mente e intelecto em torno do fazer artístico. A artista incorpora espontaneidade e expressividade, e ao mesmo tempo estabelece uma relação crítica e interessada pela história da arte.
A cronologia, organizada por Julia Pombo, contribui para a compreensão do desenvolvimento do fazer artístico de Gabriela, arquiteta de formação e frequentadora de cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage durante a década de 1980. Desde o final desta década até os dias de hoje, a artista realiza exposições individuais e coletivas, bem como viagens, residências artísticas, prêmios e projetos, em diferentes instituições culturais. Por fim, a bibliografia recupera textos e vídeos produzidos por Gabriela ou sobre o trabalho dela.
Feitas as apresentações, convidamos nossos(as) leitores(as) a compartilhar os trabalhos e reflexões aqui presentes. E agradecer as contribuições da Gabriela e de fotógrafos, autores, do designer Alex, Bianca, Julia e a toda equipe envolvida. Arte Bra é um espaço plural de interpretação da arte.
PINTURAS, ESCULTURAS: VOLÚVEIS E VORAZES
Ronaldo Brito
Há um tipo de artista que passa a vida procurando ver o mundo, de novo, pela primeira vez; para quem fazer arte será sempre reaprender a fazê-la. Ele começa por aceitar, e até celebrar, a contingência. O que vem a encontrar pelas ruas e museus, em acasos significativos, torna-se a matéria viva de sua arte. Mas cabe a ele, e só a ele, vitalizá-la. A graça dessa fluência topológica entre vida e arte, entre ser e fazer, não é concedida à toa – é preciso laborar, persistir, merecer-se eleito.
Um experimentalismo despretensioso, que pressupõe uma atitude de permanente disponibilidade, e ainda reservas consideráveis de energia plástica, atravessa a obra de Gabriela Machado desde as suas perecíveis Pinturas de café (final dos anos 1980) até as recentes esculturas esdrúxulas. Inexistem etapas ou estudos preparatórios porque inexiste antevisão: de saída, a artista se envolve com técnicas e materiais recalcitrantes em busca de formas que parecem resistir, a todo custo, a tomar Forma. O frescor dessas descobertas, quase sempre solares, deriva, pois, de certa agonia. Só o empenho desmesurado, a imponderável disciplina do improviso, podem solucionar o dilema de cada súbito aparecimento. Descobertas só se reconhecem como tais quando as coisas, afinal, se descobrem.
Sob o fascínio de Giorgio Morandi, tão caro a sucessivas gerações de artistas modernos brasileiros, Gabriela Machado realizou nos anos 1990 uma série importante de grandes desenhos. Reaparece aí uma das questões recorrentes da modernidade plástica brasileira: como deixar para trás nosso proverbial intimismo, fruto evidente das condições privadas do exercício da arte no Brasil? Ao ganhar escala, demandar presença ostensiva, esses desenhos forçavam o corpo da artista a movimentos francos e dessublimados. Em seus momentos de rearticulação, ressurge sintomaticamente na obra o desafio da escala – tudo indica que a artista tenha que atuar, e até se perder, dentro do trabalho para que este encontre o seu rumo necessariamente imprevisível. Justo porque nasce de uma percepção nervosa, que encantou e excitou a retina da artista, o quadro deve se expandir e transfigurar-se até o limite do inverossímil. A histórica liberação visual impressionista continua a deter aqui valor de princípio. Agora, contudo, “impressiona” o corpo inteiro, adquire força motora, dimensão comportamental. Na qualidade de arte contemporânea, cada tentativa de pintura enfrenta o teste de nos convencer da potência cognitiva e imaginativa das aparências materiais em um planeta literalmente hipnotizado pelo virtual. Em tais circunstâncias, mesmo supondo um espectador avisado, ou o quadro desperta o olhar, urgente, intrigante, ou passa despercebido.
A meu ver, o trabalho de Jorge Guinle ao longo dos anos 1980 reativou nosso campo pictórico, repôs em condições contemporâneas a pergunta pela pintura. Pergunta que, é óbvio, ultrapassa em larga medida sua produção precoce e cruelmente interrompida. Gabriela Machado, entre outros, agradeceu o incentivo. Não que se debruçasse sobre as telas de Jorge Guinle, girasse em sua órbita; de fato, elas deixaram apenas rastros aqui e ali. Mas o exemplo de uma prática tão culta, livre e desinibida reautorizou uma aventura contemporânea de pintura. E, se pretendia dar sequência à tradição moderna investigativa, no caso específico da iniciante Gabriela Machado, essa pergunta renovada pela pintura haveria de interrogar a sua origem: o fenômeno da visualidade pura. A pronta reação ao estímulo óptico, após tantos anos, segue fator intrínseco ao trabalho. A tal ponto que a própria construção do quadro se confunde com o quanto de intensidade luminosa que é capaz de emitir. Cumpre assim sua obrigação precípua: potencializar a visibilidade do mundo. Repete-se a eterna exigência da metafísica ocidental: salvar as aparências. Só que aqui ela consuma algo muito diverso da manobra original platônica – as aparências, no final das contas, apenas participavam das essências. Dispensemos, por insignificância, o uso corrente da expressão degradada em regra de ouro da hipocrisia. Salvar poeticamente as aparências significa dignificar o elemento comum do Mundo da Vida, atender com gosto a seus impulsos e provocações.
Aparências fugazes fazem parte do metabolismo incessante da vida, enervam a textura do mundo, incitam o exercício de uma lógica da incerteza. Não são, de modo algum, imagens, muito menos representações. Logo que as sedutoras Manchas vermelhas (1999-2002), por exemplo, pacificam-se, ameaçam virar signos prestigiosos de autoria, acabam sumariamente descartadas. Uma fácil leitura pública congelou sua forma inquieta em belas imagens. O tempo se encarregará, acredito, de ressuscitá-las. Saudável regime de higiene estética – esta artista, pelo menos, quer espantar para bem longe sua sombra. Pinta no presente, sob o apelo irresistível do futuro. Buquês e vasos de flores vão assim se transfigurando em formações pictóricas meio assustadoras, estapafúrdias, prestes a sair da tela e perturbar a paz doméstica. Esta é a melhor Gabriela, sem dúvida alguma. Aquela que consegue implodir a composição, desacatar o senso de equilíbrio e proporção. O estranho e um tanto inexplicável é que, apesar de tudo, essas telas se revelem atraentes, irradiem certa beleza contrária, mas cativante. Em parte, é certo, pelo ardor com que foram pintadas. Quem sabe transmitam a sensação de felicidade ética própria às coisas íntegras, nas quais coincidem pensamento e ação.
Todo e qualquer a priori resulta, portanto, anátema, paralisaria uma atividade compulsiva que desconhece (tem que desconhecer) seu alcance e sua medida. Sem relegá-los ao ostracismo – também eles são produzidos com afinco –, as pequenas telas, aquarelas e desenhos semifigurativos não chegam a transgredir seus motivos, guardam sua memória latente. Prefiro considerá-los pausas contemplativas, indispensáveis ao trabalho para recuperar o fôlego antes de cada recomeço decisivo. Recomeçar, quer dizer, retomar o contato ansioso com o seu destino incompleto de artista.
A chamada imprevista e imperiosa para a escultura determinou outro recomeço radical da obra. À primeira vista, tudo nesse trato inédito com a argila e a cerâmica seria hostil, avesso ao temperamento volátil da artista. Há três ou quatro anos ela se esfalfa no aprendizado (e desaprendizado) exigente dos rudimentos dessa técnica milenar que só faz contrariar a notória impaciência de seus gestos pictóricos. O tempo de produção é mediado, lento e descontínuo, passa pelo forno, eventualmente culmina no molde de bronze. Sem mencionar as encrencas de praxe, rachaduras, estouros e carbonizações. Para tentar dizê-lo, também eu, de uma só vez: a tarefa espinhosa (e prazerosa!) é conjurar tantas manobras díspares em uma única peça espontânea, rápida e casual. Manipulada à exaustão a argila, levar as peças ao forno, em seguida aplicar tinta à vontade e dispô-las em bases de madeira crua provisórias e intercambiáveis, enfim, toda uma soma de esforços que terminam quase em um objet trouvé surrealista, achados fortuitos, em ocasiões propícias, por aí afora. Lembram bibelôs kitsches em plena metamorfose de qualificação artística. Algumas talvez evoquem as pinceladas oleosas de De Kooning, que, por efeito de extroversão, saltaram ao espaço. A maioria parece mesmo a tinta volúvel de Gabriela Machado em processo acelerado de solidificação. E, como insistem em crescer, as esculturas agora oscilam entre bolos de noiva e Medusas. Reiteram com isso o funcionamento típico do imaginário do trabalho, sempre ocupado em redimir a beleza caída dos objetos cotidianos, regenerar figuras e formas gastas pelos maus-tratos de um consumo desatento que ignora o mistério das aparências.
Seja lá o que forem, essas esculturas malucas atualizam a vocação prospectiva do trabalho, agravam o seu tônus lírico. Elas se multiplicam, proliferam, invadem o ambiente no despropósito de acrescentar pura e simplesmente suas formações imaginárias à realidade convencional. Pouco importa o que possam sugerir, de início, ao nosso olhar condicionado. O importante é fazer e desfazer a sua experiência, acompanhá-las em seu acidentado, ora divertido, ora sofrido, vir-a-ser. Pelo visto, querem se propagar em estágio perene de transformação. Pulsões de vida repugnam o definitivo, sabem muito bem de quem ele é sinônimo.
VERMELHO (EM SUSPENSO)
Paulo Venancio Filho
Há um tipo de artista que passa a vida procurando ver o mundo, de novo, pela primeira vez; para quem fazer arte será sempre reaprender a fazê-la. Ele começa por aceitar, e até celebrar, a contingência. O que vem a encontrar pelas ruas e museus, em acasos significativos, torna-se a matéria viva de sua arte. Mas cabe a ele, e só a ele, vitalizá-la. A graça dessa fluência topológica entre vida e arte, entre ser e fazer, não é concedida à toa – é preciso laborar, persistir, merecer-se eleito.
Um experimentalismo despretensioso, que pressupõe uma atitude de permanente disponibilidade, e ainda reservas consideráveis de energia plástica, atravessa a obra de Gabriela Machado desde as suas perecíveis Pinturas de café (final dos anos 1980) até as recentes esculturas esdrúxulas. Inexistem etapas ou estudos preparatórios porque inexiste antevisão: de saída, a artista se envolve com técnicas e materiais recalcitrantes em busca de formas que parecem resistir, a todo custo, a tomar Forma. O frescor dessas descobertas, quase sempre solares, deriva, pois, de certa agonia. Só o empenho desmesurado, a imponderável disciplina do improviso, podem solucionar o dilema de cada súbito aparecimento. Descobertas só se reconhecem como tais quando as coisas, afinal, se descobrem.
Sob o fascínio de Giorgio Morandi, tão caro a sucessivas gerações de artistas modernos brasileiros, Gabriela Machado realizou nos anos 1990 uma série importante de grandes desenhos. Reaparece aí uma das questões recorrentes da modernidade plástica brasileira: como deixar para trás nosso proverbial intimismo, fruto evidente das condições privadas do exercício da arte no Brasil? Ao ganhar escala, demandar presença ostensiva, esses desenhos forçavam o corpo da artista a movimentos francos e dessublimados. Em seus momentos de rearticulação, ressurge sintomaticamente na obra o desafio da escala – tudo indica que a artista tenha que atuar, e até se perder, dentro do trabalho para que este encontre o seu rumo necessariamente imprevisível. Justo porque nasce de uma percepção nervosa, que encantou e excitou a retina da artista, o quadro deve se expandir e transfigurar-se até o limite do inverossímil. A histórica liberação visual impressionista continua a deter aqui valor de princípio. Agora, contudo, “impressiona” o corpo inteiro, adquire força motora, dimensão comportamental. Na qualidade de arte contemporânea, cada tentativa de pintura enfrenta o teste de nos convencer da potência cognitiva e imaginativa das aparências materiais em um planeta literalmente hipnotizado pelo virtual. Em tais circunstâncias, mesmo supondo um espectador avisado, ou o quadro desperta o olhar, urgente, intrigante, ou passa despercebido.
A meu ver, o trabalho de Jorge Guinle ao longo dos anos 1980 reativou nosso campo pictórico, repôs em condições contemporâneas a pergunta pela pintura. Pergunta que, é óbvio, ultrapassa em larga medida sua produção precoce e cruelmente interrompida. Gabriela Machado, entre outros, agradeceu o incentivo. Não que se debruçasse sobre as telas de Jorge Guinle, girasse em sua órbita; de fato, elas deixaram apenas rastros aqui e ali. Mas o exemplo de uma prática tão culta, livre e desinibida reautorizou uma aventura contemporânea de pintura. E, se pretendia dar sequência à tradição moderna investigativa, no caso específico da iniciante Gabriela Machado, essa pergunta renovada pela pintura haveria de interrogar a sua origem: o fenômeno da visualidade pura. A pronta reação ao estímulo óptico, após tantos anos, segue fator intrínseco ao trabalho. A tal ponto que a própria construção do quadro se confunde com o quanto de intensidade luminosa que é capaz de emitir. Cumpre assim sua obrigação precípua: potencializar a visibilidade do mundo. Repete-se a eterna exigência da metafísica ocidental: salvar as aparências. Só que aqui ela consuma algo muito diverso da manobra original platônica – as aparências, no final das contas, apenas participavam das essências. Dispensemos, por insignificância, o uso corrente da expressão degradada em regra de ouro da hipocrisia. Salvar poeticamente as aparências significa dignificar o elemento comum do Mundo da Vida, atender com gosto a seus impulsos e provocações.
Aparências fugazes fazem parte do metabolismo incessante da vida, enervam a textura do mundo, incitam o exercício de uma lógica da incerteza. Não são, de modo algum, imagens, muito menos representações. Logo que as sedutoras Manchas vermelhas (1999-2002), por exemplo, pacificam-se, ameaçam virar signos prestigiosos de autoria, acabam sumariamente descartadas. Uma fácil leitura pública congelou sua forma inquieta em belas imagens. O tempo se encarregará, acredito, de ressuscitá-las. Saudável regime de higiene estética – esta artista, pelo menos, quer espantar para bem longe sua sombra. Pinta no presente, sob o apelo irresistível do futuro. Buquês e vasos de flores vão assim se transfigurando em formações pictóricas meio assustadoras, estapafúrdias, prestes a sair da tela e perturbar a paz doméstica. Esta é a melhor Gabriela, sem dúvida alguma. Aquela que consegue implodir a composição, desacatar o senso de equilíbrio e proporção. O estranho e um tanto inexplicável é que, apesar de tudo, essas telas se revelem atraentes, irradiem certa beleza contrária, mas cativante. Em parte, é certo, pelo ardor com que foram pintadas. Quem sabe transmitam a sensação de felicidade ética própria às coisas íntegras, nas quais coincidem pensamento e ação.
Todo e qualquer a priori resulta, portanto, anátema, paralisaria uma atividade compulsiva que desconhece (tem que desconhecer) seu alcance e sua medida. Sem relegá-los ao ostracismo – também eles são produzidos com afinco –, as pequenas telas, aquarelas e desenhos semifigurativos não chegam a transgredir seus motivos, guardam sua memória latente. Prefiro considerá-los pausas contemplativas, indispensáveis ao trabalho para recuperar o fôlego antes de cada recomeço decisivo. Recomeçar, quer dizer, retomar o contato ansioso com o seu destino incompleto de artista.
A chamada imprevista e imperiosa para a escultura determinou outro recomeço radical da obra. À primeira vista, tudo nesse trato inédito com a argila e a cerâmica seria hostil, avesso ao temperamento volátil da artista. Há três ou quatro anos ela se esfalfa no aprendizado (e desaprendizado) exigente dos rudimentos dessa técnica milenar que só faz contrariar a notória impaciência de seus gestos pictóricos. O tempo de produção é mediado, lento e descontínuo, passa pelo forno, eventualmente culmina no molde de bronze. Sem mencionar as encrencas de praxe, rachaduras, estouros e carbonizações. Para tentar dizê-lo, também eu, de uma só vez: a tarefa espinhosa (e prazerosa!) é conjurar tantas manobras díspares em uma única peça espontânea, rápida e casual. Manipulada à exaustão a argila, levar as peças ao forno, em seguida aplicar tinta à vontade e dispô-las em bases de madeira crua provisórias e intercambiáveis, enfim, toda uma soma de esforços que terminam quase em um objet trouvé surrealista, achados fortuitos, em ocasiões propícias, por aí afora. Lembram bibelôs kitsches em plena metamorfose de qualificação artística. Algumas talvez evoquem as pinceladas oleosas de De Kooning, que, por efeito de extroversão, saltaram ao espaço. A maioria parece mesmo a tinta volúvel de Gabriela Machado em processo acelerado de solidificação. E, como insistem em crescer, as esculturas agora oscilam entre bolos de noiva e Medusas. Reiteram com isso o funcionamento típico do imaginário do trabalho, sempre ocupado em redimir a beleza caída dos objetos cotidianos, regenerar figuras e formas gastas pelos maus-tratos de um consumo desatento que ignora o mistério das aparências.
Seja lá o que forem, essas esculturas malucas atualizam a vocação prospectiva do trabalho, agravam o seu tônus lírico. Elas se multiplicam, proliferam, invadem o ambiente no despropósito de acrescentar pura e simplesmente suas formações imaginárias à realidade convencional. Pouco importa o que possam sugerir, de início, ao nosso olhar condicionado. O importante é fazer e desfazer a sua experiência, acompanhá-las em seu acidentado, ora divertido, ora sofrido, vir-a-ser. Pelo visto, querem se propagar em estágio perene de transformação. Pulsões de vida repugnam o definitivo, sabem muito bem de quem ele é sinônimo.
TINTA AO ALVO
Alberto Tassinari
Quando já não importa se acerta ou se erra o alvo, o arqueiro zen se torna mestre. Há algo dessa maestria nas pinturas e desenhos recentes de Gabriela Machado. E é bem uma espécie de alvo que também suas obras miram. Há um centro em cada uma delas. Não exatamente o centro do quadro. Mas tampouco, porém, o centro das figuras esgarçadas, quase atrapalhadas, atropeladas, aliteradas, tantas coisas, e que tendem, na maioria das vezes, a uma forma arredondada. Entre os dois centros, o olhar oscila. Fixa-se então numa região intermediária, mas logo se desprega por força de uma pincelada que o desconcentra. Mas ao centro, ou à sua procura, retorna, pois as pinceladas são tão evidentes e francas quanto incapazes de levar o olhar muito além do arredondado da forma. Com a energia que arrancam, estancam. Onde um gesto se prolongaria, ganharia expressão, traçaria um destino, para. Percebe-se, assim, que há expressão demais. As pinceladas se embrulham, são mesmo embrulhos, imbróglios de pinturas, repolhos de tinta. Pois sem a dimensão cômica, estabanada, as pinturas não soletrariam sua outra dimensão, sua contraparte bela, sutil, seus esboços, portanto agora expressão a menos, de flores, frutas, e – perfazendo o círculo de suas possíveis fisionomias –, virando-se de novo pelo avesso, legumes, alfaces, enfim, repolhos. Sérias e engraçadas são essas bolotas enoveladas de tinta. O que, em tempos tão pretensamente sábios, é algo bem mais sério do que as piruetas sem nenhuma graça de tanta arte raciocinada que grassa no mundo da arte. São graças e graciosidades feitas a puro pincel. E com cores, combinadas e desarranjadas. Tudo certo e tudo errado. Portanto, tudo certo.
Nos desenhos em papel em que apenas a cor vermelha era empregada, Gabriela Machado já articulava parte da potência de seu novo trabalho. No lugar das cores, empregava diferentes densidades de pigmentação para desenhar os novelos arredondados. Como um sol, nascente ou poente, a forma circular ficava mais na parte inferior do branco do papel. E se dar nomes de coisas a uma pintura abstrata é uma licença poética licenciosa demais, nada impede de dizer que ali não havia nada. Apenas uma bolota avermelhada, sisuda, grande demais para assinalar que estava ali e pequena demais para tanto branco que sobrava. Desmedida, por uma razão ou por outra, era de um siso que antecipa, conforme cresce a tensão de seu silêncio, o riso, pelo menos o sorriso, que vem quebrar a distância e aproximar o que de outro modo não se poria em comunhão. Essa duplicidade, porém, ainda que muito bem dominada, era mais estanque, embora também dramática, do que as dos desenhos a cor e das pinturas de agora. Não podiam, sem a cor, pôr um verde e rosa da Mangueira ao lado de um magenta e amarelo de Matisse. Não carregavam, também, a variedade de tônus, caminhos e descaminhos que o veículo da pintura oferece com maior facilidade. E, sobretudo, se essa facilidade já foi antes conquistada com uma energia histórica pouco igualável. Penso aqui na pincelada, na sua última e talvez mais exuberante configuração, do De Kooning da segunda metade dos anos 1960 e dos anos 1970. Nas obras de Gabriela Machado, porém, essa pincelada é como que subvertida. Não se inventa duas vezes o pincelar talvez mais inventivo da arte moderna. Mas se pode muito bem usufruir da liberdade que conquistou.
Em De Kooning, por ser expressivo, o gesto, mesmo com suas infindáveis manobras, ainda que descontínuo, nunca é interrompido. A energia que expressa parece ter sido inteiramente transposta para a tela. Já seu emprego por Gabriela Machado se empresta à fisionomia das pinceladas de De Kooning, não deixa de transfigurá-la ao voltá-la para um centro, para um anovelar-se, mesmo quando, como um fiapo, a pincelada parece caminhar para fora, pois aí também a referência a um centro procurado permanece. É o centro de onde escapa e é o centro ao qual se prende. Daí o arredondado da figura isolada no branco do papel ou na tela crua vazia. E esse círculo procurado também, ainda que de modo menos nítido, tem uma história na arte. Mesmo antes dos alvos de Jasper Johns, o adensamento do centro da pintura é um aspecto cada vez mais buscado nas pinturas de Guston da sua fase abstrata. E as pinceladas de tal forma se acumulam no centro do quadro que não é descabido pensar que sua poética do acúmulo, evidente nos acúmulos de detritos de sua fase figurativa, já existia entre 1955 e 1965. É pela exacerbação de uma abstração que não é nem pictórica nem linear, mas algo entre as duas, feita de pinceladas quebradiças, muitas vezes quase codificadas como no minimalismo, que Guston transmuta a eloquência do expressionismo abstrato em restos de tinta e, depois, em restos de coisas. Assim, se, de De Kooning, Gabriela Machado congela em boa medida o gesto, de Guston conserva o centro, mas desmancha seus acúmulos.
É sempre arriscado montar genealogias para obras de artista. Não se trata aqui, porém, de genealogias documentadas, nem mesmo conscientes, mas de empréstimos poéticos, mesmo que apenas interpretativos por parte da crítica, e que resultam numa terceira coisa, mas não num meio-termo, e sim numa reflexão que a história da arte põe à disposição dos artistas. Toda pintura remete a todas, diz Merleau-Ponty para assinalar essa vida subterrânea da arte. Para não ir tão longe, como muitos pintores contemporâneos brasileiros, a obra de Gabriela Machado tem fontes também em Jorge Guinle. Mais do que um estilo, sua poética constituiu-se em boa parte em fazer confrontarem-se, no mesmo quadro, diferentes estilos europeus e norte-americanos de pintura, como se na batalha em que se transformava o quadro estivesse nossa potência de compreensão do diverso, assim como nossa incapacidade de invenção do individuado por excelência. Não há nenhuma invenção gestual, nenhum pincelar, na arte brasileira que traduza o indivíduo pleno das pinturas de De Kooning dos anos 1970, assim como não há nenhum intérprete de nossas mazelas como Guston foi de uma sociedade em que subjetividades tão autoconfiantes têm, como contrapartida, nos acúmulos de dejetos seu lado dissociado, insociável. Já nossas dissociações são outras. Menos individuados, somos mais solidários. Mais solidários, estamos bem mais longe de uma sociedade, ainda que bem outra do que a do norte, porém mais plena que a atual. Toleramos. Temos mesmo algo de zen. Com a diferença de que muitas vezes mal sabemos se erramos ou acertamos o alvo. A arte, a pintura, em parte nos regenera. Do jeito que dá, esforçamo-nos, pinta-se, pomos a mesa. Belos repolhos. Esfarrapados buquês.
FORÇA BRUTA
Frederico Coelho
Há alguns anos, Gabriela Machado encontrou um novo espaço criativo em sua vida. Ao lado da pintura – ofício que vive intensamente na beleza bucólica de seu ateliê –, ela elegeu a música como outro cerne de sua relação com a arte. Mas não é qualquer música. Entre todas, Gabriela elegeu o samba, mais especificamente o samba que emana da batida do pandeiro. São sua síncope e seu movimento rítmico que, assim como suas tintas nas telas em branco, espalham vida rumo ao mar do prazer estético. Quando não está pintando ou vivendo o lado cotidiano de sua obra, Gabriela está nas rodas de samba, mergulhada na sua prática comunitária, democrática, sem hierarquias e organizadas apenas pelo intuito da alegria sonora.
Lembremos aqui que o samba e as artes visuais sempre foram parceiros felizes no Brasil. De Heitor dos Prazeres e Di Cavalcanti a Hélio Oiticica e Carlos Vergara, esse diálogo criativo resultou em belos momentos. No caso de Gabriela, o samba impregnou seu olhar para o mundo, batizou suas telas com nomes de cabrochas, mostrou-lhe as gingas e as filosofias de vida que só os sambistas atingem em formato sublime e, ao mesmo tempo, popular. A beleza de Cartola ou Guilherme de Brito, a crueza de Nelson Cavaquinho ou a assertividade de Candeia entraram em sua vida e vazaram, em todos os sentidos, nas suas tintas.
Essa relação estreita entre música e pintura se torna óbvia quando evocamos uma palavra em comum para ambas: ritmo. O ritmo da música e o ritmo da pintura são elementos fundamentais em qualquer composição. Ambos nos trazem à mente jogos temporais e espaciais em que a dinâmica ou a cor regem contrastes entre cheios e vazios, entre lento e veloz, entre claro e escuro, entre dobras e recuos. Músicas e pinturas são arranjos cuidadosos de ocupação de espaços – sonoros e pictóricos.
Na pintura abstrata de Gabriela, uma das primeiras apropriações que podemos fazer diz respeito ao seu ritmo de cores e à sutil observação do caminho que elas seguem, esparramadas nas grandes telas brancas e nas aquarelas. As cores ditam o ritmo do olhar como partituras dessa música silenciosa e, contraditoriamente, explosiva.
Essa explosão sincopada, essa abundância de cor em um espaço limpo e equilibrado como suas telas, são movimentos que fornecem a base para sua força bruta. E, aqui, esqueçamos todos os sentidos negativos ligados à derivação de uma brutalidade. No trabalho de Gabriela, bruta é a matéria cor em sua plena potência física e poética. Bruta é a força que nos move quase inconscientemente para um mundo onírico, de puro prazer das formas em detrimento do circuito opressor diário do real ou do documento. Como a roda de samba, entramos na pintura de Gabriela sem saber a que horas vamos sair, pois são espaços cujos regimes são o prazer. É esse o bruto que toma os sentidos e nos arremessa para uma zona em que cada um de nós pode se desarmar dos lugares-comuns para inventar novas narrativas sobre a vida e as cores.
Espalhada, orgânica, em movimento, a ocupação do espaço em branco de suas telas pode, quem sabe, parecer gratuita na sua sinuosidade sensual. Não atravessemos o samba. Essa ocupação é, ao contrário, fruto de uma relação íntima e delicada de Gabriela com o seu ofício. Suas pinturas nos apresentam os meandros desse embate diário do pintor com cores, pigmentos, óleos, resinas, texturas e misturas. Na composição aberta, espontânea, em progresso, suas cores não competem, se abraçam. Aos poucos, as formas dão as mãos e se reinventam nesse lento caminho da mistura. Em um trabalho paciente, a pintora aplica camadas de tinta em suas telas e as deixa repousar em pleno processo de entrosamento. Assim, as grandes manchas de cor ganham intensidades diferentes a cada operação. O que parece um traço veloz são, na verdade, caminhos da cor maturados com a calma de um fim de tarde.
No atual panorama da pintura brasileira, Gabriela Machado traz em seu trabalho uma afirmação da abstração em contraponto a realismos e perspectivas fotográficas do mundo. Sua abstração, porém, não se fecha em diálogos internos da forma ou silêncios monocromáticos. Suas telas de pura cor em movimento oferecem o frescor de uma narrativa encapsulada, prestes a eclodir em frente aos olhos de todos nós. Há nesses trabalhos e na obra de Gabriela Machado uma alegria incontida de braços dados a uma fruição contemplativa. Alegria e contemplação que nos remetem ao prazer da pintura, ao vitalismo da arte. Talvez seja aí que resida essa força bruta que nos leva a suspender alguns momentos da vida prática para mergulhar em uma exposição de arte. Ou em uma roda de samba.
UM "OLHAR VIAJANTE", CRIANDO SEMPRE
Jorge Emanuel Espinho
Tantas e tantas vezes verificamos – em qualquer percurso artístico de que somos testemunhas – a coerência e o recorte formal característicos desse criador funcionarem como pragmáticas e invioláveis prisões, que por fim encerram e limitam a própria liberdade criativa do artista. Sua pretensa liberdade fica assim reduzida e rebaixada apenas a uma teórica possibilidade nunca exercida. Se naturalmente esperamos e aplaudimos uma prática livre e inclusiva como parte fundamental da ação do artista, é com frustração e pesar que vemos se vulgarizar um encerramento da sua criatividade bem dentro da própria obra, assim feita percurso a respeitar e prosseguir, assim feita limitação e fronteira, encerramento e repetição. Muitas e demasiadas vezes, o próprio caminhar do artista se faz numa paisagem imutável e esterilizada, em derrapagem de infinito desdobramento dos seus temas e pressupostos, métodos e meios; sem que assim se veja avanço ou diferença, inovação ou aventura...
Questões como as lógicas do mercado ou o reconhecimento são muitas vezes apontadas como responsáveis por essa repetitiva continuidade. Aqui preferimos enaltecer e sublinhar a coragem voluntariosa face ao risco da mudança, e a lúcida autocrítica, como alvos a perseguir e a alcançar. Uma positiva ambição criativa desta artista promove, hoje, novos experimentos, fazeres e avanços. Será essa, julgamos, a mais elevada razão e motivação do ser criativo.
O trabalho de Gabriela Machado vem do desenho e da pintura – e de uma pintura em que o traço é desenhado, livre, expressivo e grosso, tantas vezes fluido e aquoso –, na manifestação solta de uma energia vital que parece querer ser, desde sempre, o grande sujeito escondido, o grande alvo principal do trabalho da artista. Reconhecida pelas suas grandes pinturas de flores que sempre recusaram ser apenas isso – e que antes se reconfiguram num aquático escorrimento sensual de cor e de encontro, como exemplos momentâneos e poéticos da força delicada e firme que as habita, suspensas em branco vazio –, a artista ocupa e alimenta hoje o lugar múltiplo em que agora se encontra. Ou melhor, que para si criou e permitiu, generosa e disponível, experimentando e abrindo para si própria – e também para nós com ela – o seu mais novo deste seu agora.
Poderíamos, na nossa imparável ânsia de nomear, chamar a esse lugar de Cruzamento, pois nele muito se encontra e se cruza, e dele muito em futuro já se descobre. Ou Farol, suspeitando e vislumbrando também já outras paisagens, ainda mais longe, a iluminar criando. Ou talvez Sentido, já que o suave tato da mão que mexe o barro traz outro sentir/saber nesse fazer, que é um olhar novo a experimentar: avançando, tateando, sempre em improviso. Sublinhe-se, desde já, que, seja nas pequenas esculturas ou nas maiores, a artista manipula, diretamente agora – já sem tela mediando –, a tal força vital que bailava ébria em suas pinturas. Com simultânea intimidade curiosa e descoberta, familiaridade e novo encontro, aprofundamento e maior leveza.
Parece acontecer aqui, e no percurso já longo da artista, uma gradual aproximação ao âmago do acontecimento, seu centro físico, sua origem. Pois, se o seu trabalho revelava o resultado pictórico de eventos e manifestações registrados no seu olhar o mundo, agora surge um fazer mais delicado e artesanal, noutro sensível; resultado do encontro com esse mesmo centro.
Este centro é, ou torna-se aqui, e claramente reunidos: dispersão e fonte, intenção e forma, corpo e função, lazer e essência. Apetece dizer que, ao contrário de se deixar levar por percursos e passeios lógicos e inócuos pela própria obra, a artista recua em profundidade, avançando: aproximando-se e dando o íntimo corpo que é seu, a esse manancial etéreo de cuja natureza nos foi, ao longo dos anos, sussurrando e discorrendo.
Se aqui arriscamos essa difusa fonte enquanto origem de sua obra, podemos afirmar com maior firmeza que, para onde esta vai e seguirá, será mistério a ser desvendado com incerteza e parcimônia. Eis assim um raro momento de interseção e cruzamento, entre um passado de leitura do real e o futuro da sua nova escrita, que aqui a artista esboça.
Onde antes se descrevia inventando, agora se cria a construir; onde antes se cantavam qualidades, agora se afirma a realidade, sempre em seu forte potencial infinito. Por fim, o eterno bailado hipnótico da cor e da forma deu lugar ao sumário espesso do que tudo cria: barro, mão, órgão.
Para nós, que agora olhamos mais de longe, a querer ver, esta é a fundamental lição de (des)educar o olhar. Talvez para um dia, depois, melhor o (re)criar. Nas palavras de Gabriela Machado, é esse o “Olhar Viajante” que aqui se nos apresenta. Orgânico, mais solto, mais fundo e transformado, agora talvez, em Criando Sempre.
CADERNO DA ARTISTA
ENTREVISTA
Rio de Janeiro, 18 de maio de 2015.
Participantes: Fred Coelho, Jorge Espinho, Aleh Ferreira, Bianca Zampier, Luiza Mello, Marisa Mello e Duda Moraes.
Começo com canção de Aleh Ferreira
Fred Coelho
Acho que poderíamos começar falando da sua relação com a música. Qual é o papel da música no seu trabalho? Desde o começo, de forma tímida, ao dar o nome de canções às obras, até o momento em que você decide incorporar a música na sua vida como instrumentista, tocando percussão, e de como isso é importante para seu processo.
Gabriela Machado
Todo esse processo de juntar as artes está muito ligado ao sentir, porque meu trabalho vem de uma combinatória de imagens e sentimentos, de perceber outros universos, que acaba se tornando serial e acaba vindo junto de todas as percepções que eu tenho sobre o meu redor. A música, o que ela me desperta para a vida, o que me faz sentir e o que me faz ter essa conexão com as coisas que estão fora do fazer com a minha mão, entrou dentro deste nicho. Inicialmente a minha curiosidade com a música veio através da minha filha Duda e então comecei a conhecer o universo do Aleh, que abriu esta porta para a música que te faz transcender. Comecei a aprender a tocar um instrumento e escolhi o pandeiro por trazer o corpo junto – minha pintura tem isso: para pintar, tenho que estar muito equilibrada corporal e emocionalmente, e a música é totalmente corpo. Então, fui aprender a tocar um instrumento de percussão para entender essa matemática – pois é uma matemática – e para entender essa inteligência de ter o corpo, a mente e o intelecto todo naquele momento. Quando vejo o trabalho do Aleh, as letras, a melodia, o percurso até chegar a ser uma música, identifico esse processo do fazer que é semelhante ao da pintura.
Jorge Espinho
Essa questão do fazer é central no seu trabalho, porque não é um trabalho “pensado”. É o sentir, mas depois é o fazer, e a liberdade que sempre vem na pintura.
Gabriela Machado
Meu trabalho não é do fazer de uma “obra-prima”, ele vem de uma combinatória, de uma serialidade, que me faz ter interesse por ele. O próprio trabalho pede essa lógica, de não haver um projeto a priori. E a música entrou assim, é como uma fonte onde vou buscar material.
Fred Coelho
E você percebeu mudanças na sua pintura?
Gabriela Machado
Completamente. Do momento que comecei a trabalhar mais o meu corpo, a liberdade de “atacar” a tela foi muito maior, sem medo. Porque o grande lance da pintura é: o que pintar? É sempre a mesma pergunta. Então, é importante tentar apreender esse momento, como Cézanne fez ao trazer todo o entorno para dentro da cena. A cena não cabia no limite da tela, o entorno estava todo lá. É uma coisa mais de sentir e de não ter um objetivo de criar uma “obra-prima”. Meu trabalho não se resume nesse objeto aqui, por exemplo; ele é o somatório de tudo o que está aqui dentro, de tudo o que está em volta no ateliê e na minha vida, ele se faz dessa forma: as coisas que vêm do trabalho da mão, e as fotografias, que vêm do trabalho do pensamento e da visão (colocar a cabeça para funcionar e fazer uma relação com o mundo através da visão). Eu passo a ter propriedade e uma forma de olhar as coisas que coloca tudo como exercício. Vi isso também com a música, fiquei três anos para começar a tirar um som do pandeiro (risos). Essa disciplina...
Fred Coelho
Você escolheu um instrumento difícil! Porque existe primeiro um trabalho muscular, toda uma preparação muscular.
Jorge Espinho
E tem essa coisa do fazer... Não é como ler uma partitura, é um instrumento com o qual você vai descobrindo, aprendendo, enquanto faz.
Gabriela Machado
Então, para tocar o pandeiro comecei aprendendo pelo método do passo – perceber o ritmo no corpo para poder tocar. Entender isso é se desconectar de tudo o que é pronto. É preciso ter a sensação de aprendizado, de conquista. Quando eu sigo para fazer escultura, surge a necessidade de entender o universo da forma. Comecei a trabalhar o espaço que está dentro de mim e o espaço que está à minha volta. A partir disso, a pintura também ficou mais espacial, as imagens já não entram pelos lados, é preciso entender a área a ser ocupada... Procuro não ter o limite da tela, não é só aquele espaço predeterminado, é a parede toda.
Jorge Espinho
Já não tem o intermediário que é o pincel, é a própria mão.
Gabriela Machado
Sim, é a mão. É isso, o pandeiro também está aqui e eu vou entender esse espaço, como meu corpo toca nele, que tamanho ele tem pra mim... É a mesma coisa. Descubro mundos diversos de interesses. Na fotografia, é um aprendizado de olhar o mundo através de um frame, como perceber o recorte desse espaço do olhar. Essa curiosidade por outros universos é o que alimenta meu trabalho.
Fred Coelho
Você acha que esse espalhamento da sua obra – do desenho para a pintura, depois a fotografia, a escultura, e agora o livro; essa constante mudança de suporte, de vontade – pode ser colocado nesse lugar de estar sempre com certo frescor de olhar para as coisas, uma vontade de estar reinventando essa relação do corpo com o espaço?
Gabriela Machado
Sim, é exatamente isso. A ideia é estar na vida processando as coisas que caem para mim. Geralmente, o frescor do meu trabalho acontece nesse momento de transição; a obra aparece quando estou completamente dentro do processo do fazer, em uma simbiose com esse momento. Do fazer vem a obra. Acho que o Aleh foi uma pessoa importantíssima, porque eu tive muita curiosidade pelo universo dele. Essa curiosidade me fez entrar por outra porta. Não serei musicista, mas quero estar perto, quero ver, quero sentir, aprender o que eu puder e trazer isso para o meu trabalho. São coisas que a vida apresenta.
Jorge Espinho
É muita coragem estar disponível como você está. Falávamos disso quando você começou a fazer pequenas esculturas. Explorar mais a manifestação dessa forma orgânica, essa liberdade com as mãos.
Gabriela Machado
Acho que o lance é não estar engessada, não se sentir totalmente pronta para nada, deixar a rotina também lhe oferecer.
Jorge Espinho
Nem ser refém de nada...
Gabriela Machado
Sim, gosto disso.
Fred Coelho
Conversamos uma vez sobre isso, que se deve escapar desse lugar de repetição do sucesso.
Gabriela Machado
Exatamente. Mas se colocar na vida, aberta para o que ela lhe manda.
Luiza Mello
E quando você está de frente para a tela ou para outro material, quando você vai, efetivamente, fazer o trabalho. Como é o seu processo de trabalho?
Gabriela Machado
Começa pelo interesse nas formas, imagens que se destacam do resto. Às vezes alguma coisa me chama atenção e eu fico com aquela forma na cabeça, são momentos que articulam o trabalho. Por exemplo, pego a argila e começo a trabalhar, às vezes sei o que vou fazer, mas não é o que sai no final. É fundamental a resistência da matéria. Geralmente, quando me deparo com os problemas, é daí que o meu trabalho aparece. A arte é assim, desobediente. Claro que tenho todo um conceito de como isso pode se manifestar em mim, não é uma coisa tão solta. Mas o trabalho se dá. Com as pinturas acontece o mesmo. Fiz uma série agora em um momento em que estava sem saber o que pintar, mas mesmo nesses momentos preparo as telas para primeiro entender o espaço branco, fico convivendo e neste momento a cena da pintura vai aparecendo e vou entendendo como poderei atuar ali. Tenho o hábito de fazer as pinturas pequenas, como exercício, elas são narrativas, então, tudo o que está em volta é muito importante. Quando estava com essas pequenas em volta, as pinturas grandes saíram de formas que tinham nelas. Comecei a pintar, mesmo sem saber o que fazer, tentando entender de trazer o espaço da escultura para dentro da pintura – porque agora é ao contrário, não é mais a pintura para a escultura –, entender como eu trago a escultura, a forma, para o espaço e como isso pode estar recortado. Então eu trouxe alguns elementos das pinturas pequenas, que estavam aqui ao meu redor, para dentro da pintura. Elementos geométricos, por exemplo, a partir da forma de uma rua, reboco a forma horizontal das paisagens para o espaço público da tela grande, desconcertando este eixo da horizontalidade da paisagem para se tornar uma forma orgânica. E no processo fico olhando, convivendo com aquilo.
Fred Coelho
Algumas dessas pinturas pequenas também são desdobramentos de fotografias suas?
Gabriela Machado
Muitas são. Começando com determinada cena, às vezes a pintura entra em cima da imagem e vira outra coisa. Vejo as fotos como pintura. Esse trabalho das Polaroids teve continuidade porque comecei a ver nas imagens um recorte de pintura, uma cor de pintura, aquela cena acontecendo no plano bidimensional. Um exercício de tirar do espaço do olhar e inserir no plano.
Engajar corpo e pensamento é fundamental. Onde tem alguma coisa, o trabalho surge, é a escala poética. Penso que o bom trabalho contraria o intimismo. Quando não se sabe o que é, é quando está bom.
Fred Coelho
Ao mesmo tempo em que você fala desse lugar orgânico, que sempre indica certa espontaneidade, uma expressividade, tem também uma referência muito forte de certa história da arte (você mencionou o Cézanne, também sempre fala do Morandi etc.). Como você trabalha essa expressividade orgânica, essa liberdade de seu trabalho com uma relação crítica e interessada pela história da arte com que você tem vontade de dialogar?
Gabriela Machado
O meu diálogo é, principalmente, com Morandi. De acordo com o que penso, ele explorou bastante as questões da geometria, da forma, do dentro-fora, da perspectiva, da cor, da falta de cor – é um universo muito rico. E ele nunca precisou ter espaço para fazer aquilo. Ele estava dentro do trabalho, ficava naquele quartinho e a cena estava ali ao lado dele. Passou a vida pintando aquilo, passou a vida entendendo o que é o espaço. O Giacometti, que tinha um ateliê bem pequeno, era o próprio trabalho, você vê a figura dele. Brancusi também. O que é forte pra mim é estar dentro do espaço do seu trabalho, e eles foram pessoas que viveram uma vida para isso; pra mim, é isso que vale. Esgotar todas as possibilidades, na vida pelo seu sentir e um sentir por uma vida.
Jorge Espinho
Ver se esgota, né?
Gabriela Machado
Pois é. Eu faço vários trabalhos, mas são vários trabalhos que estão todos à minha volta. É como se estivesse em uma caverna e fosse tirando o barro da parede para ir fazendo… É preciso que as relações estejam aqui ao meu lado.
Fred Coelho
Isso que você chamou no começo de um aspecto serial do trabalho?
Gabriela Machado
Sim, serial. É preciso mostrar a estrutura do momento experimental do trabalho, exatamente porque, quando faço uma obra, faço uma série, nunca é uma só, isso é uma característica. Tenho que fazer vários trabalhos para poder ver tudo o que ele vai atingir. Então eu não resolvo tudo em uma pintura, porque a minha pintura fica suja se eu ficar atacando ela o tempo inteiro. É como folha de papel, tenho que ter uma pilha; aí, nesses papéis todos, vou entender como o trabalho vai se resolver.
Fred Coelho
Você não satura o negócio com todas as informações de uma vez só, né? Vai diluindo as informações em vários momentos do fazer...
Gabriela Machado
Sim. Eu guardo os momentos e, no conjunto da obra, tudo se mostra orgânico porque tudo vem de um só e todas são uma. As pinturas se pertencem em um moto continuo, elas se propagam.
Jorge Espinho
E você é desapegada nesse processo? Quer dizer, seguindo sempre de um para outro? Mais ou menos, né?
Gabriela Machado
Acho que não sou desapegada, não. (risos)
Fred Coelho
Você guarda o processo. Gosta de ter o processo junto de você, não é?
Gabriela Machado
É, porque senão eu não consigo ter evolução, nem criar um olhar. Quando você faz um trabalho e tem que mandar embora, esse é um momento no qual eu sempre fico apegada. Preciso deles perto para continuar a trabalhar. Sou acumuladora de sentimentos, de imagens e de coisas. Quando decidi fazer o livro de fotografias, por exemplo, não sabia por onde começar, havia três mil imagens. Ainda bem que existiu uma curadoria e outros olhares se colocaram.
Aleh Ferreira
É como se interrompesse seu processo, esse momento em que a obra precisa sair do ateliê.
Gabriela Machado
Não chega a ser um interromper, mas tira de mim aquele olhar. E, outra coisa, não posso ter do meu lado algo que eu não queira olhar. (risos)
Fred Coelho
Essa frase sintetiza tudo! Uma vez o Luiz Zerbini falou pra mim: “Sabe qual é o problema? Vejo o mundo todo em grid.” Essa frase sintetiza a pintura dele. E o Cabelo falou pra mim na ocasião da última exposição na Galeria A Gentil Carioca: “O meu problema é que, quando fecho os olhos, vejo muita luz.” E eu falei: não precisa de mais nada, essa informação já é o suficiente para eu escrever o texto! E essa última frase que você falou agora é maravilhosa: não posso ter do meu lado algo que eu não queira olhar.
Gabriela Machado
É, porque tudo entra. Se tiver algo que eu não queira ver por perto, aquilo vai acabar entrando no trabalho e eu vou ficar lutando contra.
Aleh Ferreira
Quando eu conheci o trabalho da Gabriela, me surpreendeu porque me passou muita delicadeza, esse foi um ponto que se mostrou imediatamente. Obviamente, uma extrema sensibilidade, com aquelas pinturas, aquelas cores... E a pessoa da Gabriela sempre se mostrou muito simples, sintetizando as frases, com poucas palavras. Quando comecei a ver as pinturas, a impressão que tinha – eu a conheci na época da exposição Doida Disciplina – era de que tinha uma relação muito forte com a natureza. A impressão era de que aqueles quadros eram, por exemplo, flores, mais precisamente orquídeas. E a orquídea, apesar de precisar do sol, como as outras plantas, é uma planta muito delicada, muito frágil...
Luiza Mello
Mas dura muito tempo, é uma flor que dura uns três ou quatro meses...
Aleh Ferreira
Me arremeteu uma reflexão que eu fazia, de que as coisas importantes, marcantes, fortes, na verdade, estão guardadas com a fragilidade, estão ligadas com uma espécie de fragilidade, com algo muito leve.
Fred Coelho
A primeira vez que entramos em contato para eu escrever sobre o trabalho da Gabriela foi para a exposição no Centro Cultural São Paulo, em 2011, e é engraçado ouvir isso agora porque eu usei o título “Força bruta” para falar do trabalho. As pinturas que estamos comentando agora são aquelas nas quais você depositava a tinta e as deixava criando a própria relação da cor, através de sua química, fazendo grandes manchas... Mas a primeira obra que eu conheci da Gabriela é da época das pinturas de muitos gestos largos e vermelhos. Vejo essa sensibilidade e beleza quase frágil dessas flores, mas também vejo muito essa força, até por já ter visto ela pintando. Ela coloca a tela na relação de um para um com o tamanho dela, é uma relação de estar dentro da tela – a tela e ela. Quando você vê uma pessoa do tamanho dela pintando telas de dimensões gigantescas com aquela força, tem uma expressão. Por isso usei o nome de uma música do Jorge Ben, “Força bruta”. Bruta no sentido dessa força primária das coisas, de um brutalismo direto para as coisas.
Luiza Mello
Acho que podemos pensar no bruto como algo que não tem verniz. Porque, pelo que a Gabriela está falando e pelas coisas que já li sobre o trabalho dela, tem uma relação bem direta. A ideia de se colocar em uma situação de experimentar, de não ter um verniz, de ser bruto...
Fred Coelho
A ideia de uma força crua, de algo direto, uma pintura sem nenhum tipo de proteção, que é a obra da Gabriela.
Luiza Mello
Sim... E as fotografias? Sei que você sempre fotografou, mas como foi que começou?
Gabriela Machado
Faço as Polaroids, faço muitas quando estou viajando. Porém, comecei a me deparar com uma dificuldade técnica: primeiro de andar na rua com uma máquina grande, como é a Polaroid, e depois com o filme, que muitas vezes não funciona e é difícil de encontrar. Eu adoro essa dificuldade, porque aí vou no desafio, no limite, e fico obcecada. A dificuldade vai me colocar em lugares onde eu não sei estar e assim é melhor ainda, né? A ginástica de estar na vida.
Aleh Ferreira
Sair do conforto.
Duda Moraes
Agora, uma coisa que aconteceu com essa busca de novas técnicas e novos materiais foi a necessidade de ter ajuda de pessoas que dominam essas técnicas, completamente novas para você. Então, como é lidar com essa relação de deixar outra pessoa intervir naquilo que você faz? Porque é uma coisa nova, e também um desafio, deixar o outro lhe falar como fazer. Isso aconteceu com a cerâmica, e com o livro (Rever).
Gabriela Machado
É bem interessante a Duda ter colocado isso, porque isso é uma coisa que me enlouquece! (risos) Fico louca de ter que depender de alguém para fazer uma fôrma para mim, por exemplo. Acho que em meus últimos projetos todos eu dependi de outras pessoas, e isso foi um exercício maravilhoso. No caso da cerâmica, fiquei um ano no ateliê da Dora Wainer. Hoje em dia eu tenho forno e já faço as coisas sozinha, mas estamos sempre conversando sobre a técnica. Agora estou fazendo alguns trabalhos em bronze. Fui para Barra de São João, para o ateliê de outra pessoa, para fazer o trabalho, precisava de muito espaço. Chegando lá, a argila estava toda em placas no chão para eu desenhar e trabalhar nela. Então pensei: como vou fazer isso aqui? Precisava das minhas referências, mas comecei a entender aquele espaço e assim pude entrar no trabalho. Eu adoro fazer residências, viajar e receber um espaço novo para trabalhar. No Arizona e em Portugal, foi assim, fui bastante para rua, comecei a filmá-la e foi daí que apareceram as fotos. Comecei a fazer filmes na rua para sentir a cidade e percebi que o que gostei dali foi a luz, os botecos etc. Comecei a fazer as fotos. Porque durante a filmagem tinham cenas que queria guardar. Por conta desse imediatismo, esse foi um trabalho que virou um diário. Comecei a ver que as cenas eram pinturas, pois eu fazia o corte da forma como vejo a pintura, e nesse momento comecei a fazer pequenas pinturas pensando nessas fotografias.
Jorge espinho
Aí já contaminou.
Fred Coelho
O que contamina as telas grandes.
Gabriela Machado
Exatamente. As telas grandes são a abstração dessas imagens. Eu me interesso em pintar as cenas, adoro fazer essa pintura do dia a dia, do cotidiano, e quando vou para a escala grande não posso trazer isso, porque isso não cabe nessa escala. A escala grande é corpo, é trazer as formas abstraídas dessas cenas. Recentemente percebi o porquê de pintar as telas grandes sem estar preocupada com limite, sem estar preocupada de aquilo ser um quadro: na minha infância, morei em uma casa onde não existiam quadros pendurados nas paredes, elas eram pintadas com afrescos, a cena estava ali na escala do meu corpo, elas eram o limite daquele espaço. Isso foi um insight que tive, sabe?
Fred Coelho
Pinturas de decoração feitas diretamente na parede?
Gabriela Machado
Sim. Eu morei em uma fazenda do século XVIII que era toda pintada de afrescos do pintor espanhol José Maria Villaronga. As paredes eram pintadas do teto ao chão. Então, qual é minha relação com pintura? É chapado, é poder passar a mão, é parede. Percebi que por isso eu nunca consegui fazer pintura como quadro. Quando percebo o tamanho, dançou. Por isso o fundo branco, porque o fundo branco vai para a parede, você abre a pintura, ela vai para fora daquilo. E todos os meus quadros podem estar juntos, com as pinturas se agrupando, elas se agregam umas nas outras; eu trabalho dípticos, trípticos e polípticos.
Jorge Espinho
Seria um trabalho lindo fazer uma colagem de todos.
Fred Coelho
Se eu fosse deleuziano, diria que seus quadros sempre têm uma “linha de fuga”. Sempre têm algo que escapa para o outro, como você acabou de falar, o processo é esse. As obras vivem escapando para a obra seguinte.
Gabriela Machado
Eu tenho muita dificuldade em montar uma exposição, em tirar as coisas daqui. Quando vejo o trabalho como uma coisa só, ele rola, mas quando tenho que colocar uma pintura aqui, outra ali, torna-se um novo desafio. E a forma de saber como mostrar a escultura é meu grande desafio no momento. Para que serve a base? O que é o suporte? Talvez se colocar no chão não funcione, então tem que elevar a altura do olho, do corpo? Perceber o espaço ao redor, potencializá-lo e, a partir daí, começar a pensar a estrutura no espaço expositivo.
Jorge Espinho
Mas a sua solução é muito boa, das pequenas madeiras. É uma não solução por um lado, mas ao mesmo tempo é uma não solução assumida.
Luiza Mello
Mas há várias outras soluções aqui – pedras, cristal etc. (Mostra uma estante com vários trabalhos dispostos.)
Gabriela Machado
O que acontece com essa estante é que eu penso assim: são espaços únicos; em cada retângulo desse, crio uma relação.
Fred Coelho
É impressionante como, vendo assim, as esculturas médias ganham toda uma relação orgânica com tudo. Isso fica em um lugar perfeito.
Luiza Mello
Engraçado, toda vez que eu penso no trabalho da Gabriela eu penso nisso, no ateliê, no jeito que ela se veste, no jeito que ela anda, na música que eu sei que ela ouve, no pandeiro... Isso que você fala de ser um conjunto, de ser orgânico, é isso mesmo, é natural.
Gabriela Machado
Penso que a melhor mostra é aquela em que temos total liberdade de entendimento do espaço e de poder levar o que temos e o que cabe na nossa mão naquele momento e perceber a forma da relação das obras com aquele espaço expositivo. Tenho um trabalho que se chama Things that fit in my hand que fala dessa relação.
Fred Coelho
Você se imagina com ateliê em outro lugar, além daqui do Jardim Botânico?
Gabriela Machado
Em qualquer lugar, eu só preciso entrar e necessito de tempo. Posso estar em qualquer espaço ou lugar do mundo que vou me relacionar com o que está à volta. Porque em qualquer lugar se acham coisas interessantes, cria-se um olhar, constrói-se uma relação.
Luiza Mello
Outra coisa que faz parte de sua vida são as viagens, você viaja bastante. Pra mim, isso é uma coisa muito importante. A história da coleção ARTE BRA, da cronologia, tem um pouco a ver com isso, pois penso na influência do que se vê fora do seu lugar-comum. Sei que isso é algo muito importante para você.
Gabriela Machado
Querer sentir as coisas próximas de como você quer estar na vida é que é o mais legal. É nessas buscas que aparecem as coisas. O bom de viajar é que desengessa e se criam outras relações, o tempo aparece com mais generosidade.
Marisa Mello
Achei interessante o que você falou sobre sua relação com as coisas, que, por mais que pareça muito harmonioso o seu trabalho, é uma relação de conflito. Eu acho que, quando você é estrangeiro, está estranho em um lugar, chega de outra forma, para observar, para ver como aquela cultura se organiza, para se inserir nela. Você não vai chegar com suas premissas, estará aberta para outros modos de vida.
Fred Coelho
Mais do que isso, no caso da Gabriela, é o olhar. Esse olhar é sempre o olhar da alteridade, sempre está buscando a diferença.
Luiza Mello
Fala um pouco mais sobre essa história do conflito? Como aparece esse conflito para você?
Gabriela Machado
É difícil de falar. Existe um desconforto nesse fazer, que me impulsiona para buscar coisas que me interessam. Me questiono sempre e privilegio o meu sentir e meu querer, estou atenta às minhas percepções.
Fred Coelho
Usando o senso comum, essa é a dor e a delícia do artista. A liberdade de poder escolher a criação, mas a criação gera uma angústia da escolha.
Gabriela Machado
É uma liberdade, mas ao mesmo tempo é acordar todos os dias e perceber questões pertinentes à criação. Então, é importante saber onde você quer estar, onde é que vai mexer com você para lhe trazer esse querer fazer. Porque, além de tudo, sem tesão não rola nada. Precisa ter frescor. Enquanto o trabalho tem frescor, vale a pena. Ficar se copiando, se repetindo, ou permanecer no mesmo lugar: talvez a angústia esteja nesse ponto, nessa passagem de sair do lugar que já conhece e enfrentar sempre um lugar novo.
Fred Coelho
Nesse contexto, acho que vale a pena falar sobre a sua passagem para a escultura. Sei que tem toda uma discussão sua a respeito de um material novo, uma situação de descontrole. Descontrole com o material, no qual você teve prazer de planejar uma coisa, colocar no forno e sair outra. Acho que seria legal você falar um pouco disso, de como chegou à escultura, e o que está prendendo você a ela.
Gabriela Machado
Depois de aprender a tocar pandeiro, vi que tudo é um dia após o outro para se chegar nos seus lugares. Então isso me deu uma confiança. A escultura sempre foi uma curiosidade. E aí eu fui colocar a mão na massa literalmente, mesmo sem saber o que queria fazer.
Fred Coelho
Você não atribuiu isso a uma fadiga sua com a pintura, a uma crise, nada disso? Foi só mais uma curiosidade?
Gabriela Machado
Sim, foi só mais uma curiosidade. Até porque tenho esse entendimento de que, se olhar para várias coisas, essas coisas só vão somar. Precisamos aprender, estar sempre aprendendo. Ninguém chega ao ponto de dizer: “Eu sei.” Estamos sempre aprendendo.
Aleh Ferreira
Você consegue identificar algum elemento que lhe deu essa direção de ir para a escultura?
Gabriela Machado
Não lembro. Não cheguei a pensar exatamente em fazer escultura, minha pintura já estava pulando do plano, foi mesmo uma questão de percepção, então parti para a tridimensionalidade. Comecei a frequentar o ateliê da Dora, que me ensinou a lidar com a porcelana e todo esse universo, uma técnica milenar e cuidadosíssima. Existe o processo da queima dos fornos que é bem complexo e eu realmente tinha dificuldade de me encaixar dentro de todos esses limites. Mas é isso, estou já há algum tempo aprendendo essa técnica e fazendo residência em fábricas para ver de perto esse universo.
Duda Moraes
Você trabalha com seu próprio limite, de corpo, até cortar a mão, até o forno estourar... As forças naturais fazem você ir para outro lugar.
Gabriela Machado
Pois é, me machuco direto, trabalho mesmo no limite. No fundo, é isso: o que me faz parar é quando me machuco. Vou indo até o máximo que posso, aí machuco a mão, por exemplo, e tenho que ficar três meses sem mexer, e aí vou ler muito, tirar fotos. Vivo nessa intensidade. Acaba que vida e obra são a mesma coisa porque correm juntas.
Fred Coelho
Mas, além da questão da escultura, do forno etc., teve o aprendizado com o esmalte, com o processo de inserir cor nas esculturas. Como foi esse processo?
Gabriela Machado
Isso é difícil ainda hoje, pois quero ter cor nas esculturas e não é assim, a técnica vem na frente neste caso.
Fred Coelho
As cores do esmalte mudam no forno, né?
Gabriela Machado
Sim. Você pinta de marrom, só que o marrom na verdade é um verde. Não dá para saber que verde vai sair, as cores são escondidas, só aparecem depois de ir para um forno a 1.200°C. A surpresa é sempre bem-vinda.
Luiza Mello
Li os textos publicados em seu site, e eles estão em uma ordem que vai do último até o primeiro. O primeiro é de 1992. Gostaria que você falasse um pouco mais sobre como foi a passagem, ou a mistura, de uma coisa para outra. Das pinturas vermelhas, passando para cor, depois para fotografia, escultura... Como foi essa passagem?
Gabriela Machado
Das primeiras coisas que fiz, a primeira que virou trabalho que eu mostrei no começo de carreira foram gravuras. Fiz umas gravuras desenhando linhas em lençóis antigos, com chapa de metal. Depois fiz pinturas com pó de café, que também eram linhas tingidas com pó de café, tudo com método de impressão, eram monotipias. Meu trabalho sempre teve essa questão do material, sempre usei materiais não convencionais. Fiquei muito tempo fazendo gravura, gostava justamente porque tem o fator surpresa do que vai aparecer, além do processo da “cozinha”. Gosto de estar nesse fazer. Depois disso, passei para as pinturas vermelhas, que eram uma ocupação de espaço, até onde o corpo pode alcançar. Na época, fazia aulas de expressão corporal e essas pinturas saíam dessa noção de espaço com meu corpo. Mas isso já aconteceu no fundo branco, nunca usei a tela inteira para limitar o tamanho dela, sempre teve o fundo sem cor, para ser como uma folha de papel, novamente para ser a parede. Eu fazia desenhos de 3 metros, enormes, com machas de nanquim, que é um material que você não controla, que tem sua propriedade peculiar, ou eram as garrafas. As garrafas tinham o meu tamanho, vieram para entender o espaço. Então, foram passagens de trabalho em que o material era muito importante, não acadêmico, não usual. E tem sempre uma parte de trazer a minha história, a minha geração teve muito isso.
Fred Coelho
Pois é. O que te moveu para as artes visuais, Gabriela?
Gabriela Machado
É engraçada essa referência de que todo mundo fala que pintou quando era criança, porque eu realmente pinto desde criança! Morava na fazenda e sempre tive aula de pintura. Morávamos nessa fazenda em Bananal, era uma casa grande e antiga. Havia um pintor acadêmico que veio da escola de Belas Artes que se chamava Durval. Ele passava a semana inteira restaurando os afrescos da casa e eu ficava ali por perto aprendendo, me ensinou muitas coisas. Portanto, tive a convivência com os materiais: a tinta, as cores, os nomes das cores, o cheiro de terebintina e todo o universo da pintura estavam ali. Ele me ensinou a pintar, me deixava ajudar, eu fazia as misturas de cor, as formas dos relevos dos afrescos. Esse foi o universo da minha casa de infância. Meu pai era uma pessoa muito lúdica e ligado nas artes em geral. Como eu gostava muito da pintura, meus pais me incentivaram nesse universo.
Luiza Mello
E quantos anos você tinha nessa época?
Gabriela Machado
Morei na fazenda dos 10 aos 18 anos.
Fred Coelho
Queria perguntar uma coisa para você continuar algo que já estava dizendo. Você falou: “Porque minha geração...” Você tem essa perspectiva de que sua obra é uma obra que faz parte de uma geração ou acha que a geração é simplesmente um recorte temporal? Você se coloca em uma geração? E, caso sim, quem você identifica como sua geração?
Gabriela Machado
Com 18 anos, eu voltei para o Rio para estudar arquitetura. Só que na arquitetura eu me encantei com a restauração de imóveis, vivi muito isso, fiquei trabalhando em restauração de casas. Depois que acabei a faculdade, fui para o Parque Lage, fiquei cinco anos lá, naquele espaço, fazendo tudo quanto era aula. O que eu considero minha geração são aquelas pessoas que estavam lá também nesse período.
Luiza Mello
Que eram, o Raul Mourão, o Ernesto Neto?
Gabriela Machado
Sim, o Raul, a Rosana Palazyan, o Marcos Chaves, com quem fiz a mesma faculdade de arquitetura, a Brígida Baltar, Tatiana Grinberg, João Modé, Analu Cunha, Eliane Duarte, Leila Danziger, Ana Muglia e muitos outros.
Fred Coelho
Então, para você, sua geração é quem estava com você estudando artes?
Gabriela Machado
Sim, ali naquele espaço. Éramos uma galera que vivia para o Parque Lage, ficávamos todos os dias lá. Todos realizavam uma imersão total. Então eu considero da minha geração as pessoas com quem interagia, sei que estávamos no mesmo espaço de tempo e talvez olhando as mesmas coisas.
Marisa Mello
E isso te contaminou?
Gabriela Machado
Sim.
Fred Coelho
Engraçado pensar que dali saiu um João Modé, um Raul Mourão e uma Gabriela Machado, caminhos muito diferentes!
Gabriela Machado
Mas naquela época se olhava muito para sua própria história. Eu, por exemplo, vim com os lençóis da minha avó. As épocas sempre trazem trabalhos semelhantes e que questionam mais ou menos as mesmas coisas, que têm aquele mesmo approach. Todos um pouco voltados para um resgate da sua origem. As pessoas estavam ali de corpo e alma. Fazer arquitetura foi importante pois a casa e o entendimento do espaço são importantes pra mim, estão no meu universo.
Fred Coelho
É interessante que você está falando, justamente, de uma geração, no Rio especificamente, que viu o mercado de arte se formar, até chegar a como está hoje. Você tem uma relação muito interessante com isso, pois é uma pessoa bem inserida no mercado e ao mesmo tempo distante dele. Como foi lidar com o fato de seu trabalho ter crescido junto com o crescimento de um mercado? E você trabalha com um suporte que o mercado absorve muito, que é a pintura. Como foi para você essa situação?
Gabriela Machado
Quando eu comecei, realmente não existia mercado, e as galerias eram uma ou duas. Não tínhamos o foco de fazer arte para o mercado, isso veio naturalmente para toda essa geração. Mandávamos trabalhos para salões e eles eram visto pelos críticos. Dessa forma, íamos mostrando o que estávamos fazendo. Mais tarde apareceram mais galerias, o mercado surgiu pra valer. Fomos aprendendo a lidar.
Fred Coelho
Como você se relaciona com a questão da crítica de arte? Você acha que ainda é importante a crítica de arte hoje para um artista, no Brasil e no mundo? E, além disso, é importante o artista ter um crítico ou críticos acompanhando seu trabalho?
Gabriela Machado
Acho importantíssimo, assim como é essa nossa conversa. Porque o crítico é um pensador da arte. Somos todos pensadores da nossa época. Ter um acompanhamento, seja através de conversas, idas ao ateliê com os amigos, críticos etc., é imprescindível. Pois o trabalho de arte é solitário, é na troca que se percebe e cresce. E é preciso estar inserido dentro de um pensamento coletivo, ou pelo menos ter essa noção.
Fred Coelho
Quando você pinta, compõe etc., você tem diálogos imaginários na criação da sua arte. Quando você está escrevendo, ainda mais quando está em um lugar no qual se perde o alcance de leitores (como o jornal, por exemplo), fica semelhante ao processo de um artista, você escreve e depois tem que esquecer, já não tem mais poder sobre a coisa. Para chegar nesse lugar, você tem que estar com um tom quase universal. Acho que um problema hoje em dia da arte visual, da literatura, do pensamento crítico contemporâneo é o excesso de vontade de protagonismo...
Luiza Mello
É por isso que acho que essa conjunção aqui, do Aleh, do Fred, do Jorge, criou uma relação interessante. Não conhecia o Aleh, mas pra mim música é a grande arte, aqui entre nós, e o Fred está ligado à música, o Jorge também... De certa forma, acho que é a mesma fonte, no fundo estamos falando da mesma coisa, arte não é artes visuais, arte é algo muito maior.
Fred Coelho
Acho que cada arte é uma forma para se manifestar a respeito de algo que é muito mais profundo. Todo grande artista começa a transbordar. Você vai transbordando para a música, para a fotografia, não sei, mas deve rabiscar alguma coisa por aí de vez em quando, escondida...
Gabriela Machado
Você quer dizer sobre escrever? Não, eu não escrevo pra valer. Estava com um exercício de escrever no mínimo três páginas por dia, assim solto. Mas para me organizar, somente com essa finalidade. Às vezes faço um exercício que é caminhar falando palavras e frases soltas. E também escrever de uma forma solta, deixar a mão escrever, retirar o intelecto, usar isso para soltar, para deixar vir. Sempre é uma surpresa mexer com seus outros sentidos, a ginástica da palavra. Gostaria de criar mais tempo para a leitura.
Aleh Ferreira
Naquela exposição do Paço Imperial lembro que tinha uma interação com um vídeo, e também tinham uns versos da Matilde Campilho...
Fred Coelho
Você conheceu a Matilde em Portugal?
Gabriela Machado
Sim, minha família é toda portuguesa. E ela é prima. A Matilde veio para o Brasil e ficou um período na minha casa, trabalhando no ateliê, fizemos vários projetos. Então, na exposição do Paço, coloquei as poesias na parede junto com as pinturas. O texto de apresentação era dela também. Ninguém melhor do que ela para escrever sobre aquele trabalho naquele momento. Minha família tem vários escritores, meus dois bisavôs eram o Conde de Sabugosa e o Ramalho Ortigão, que pertenciam ao grupo do Eça de Queiroz, Vencidos da Vida, na época de 1890, escritores que falavam do seu cotidiano, da vida mundana, poetas da sua época.
Fred Coelho
Em relação à formação do Parque Lage, às influências dessa época, você lida bem, você curte essa questão da influência no seu trabalho? Você admite isso ou acha que é um problema?
Gabriela Machado
Não acho problema algum, acho que todos temos referências, e falar de arte é falar também do coletivo. Entender o que foi feito é entender o que está sendo feito. Criamos nosso próprio sentir a partir do mundo proposto.
Fred Coelho
E hoje em dia, quando você viaja, como acha que está o lugar do artista brasileiro nessa relação com a arte contemporânea do mundo? Acha que continuamos com uma defasagem?
Gabriela Machado
Não. Estamos inseridos, isso já abriu, globalizou, todo mundo pertence a todos os lugares.
Fred Coelho
Bem diferente de quando você começou, né?
Gabriela Machado
Quando comecei, não era assim, mudou completamente. As coisas não saíam daqui, não tínhamos nem um mercado e isso foi muito rápido, em vinte anos isso mudou radicalmente. Mas o importante mesmo é termos a noção da dimensão do nosso trabalho. No meu universo, vida e obra são a mesma coisa. Isso é o cerne da questão, vida e obra, é você acordar e dormir ali com a sua questão.
Fred Coelho
O trabalho se desenvolve no desenrolar da vida. Como Morandi, que você mencionou, em um mesmo espaço descobre diariamente coisas novas. Ele tem uma escala reduzida de movimentos, mas descobre a cada dia coisas novas.
Luiza Mello
Que é uma capacidade de liberdade e abstração muito grande.
Jorge Espinho
Acho que deveríamos terminar com o pandeiro! Cadê esse pandeiro? (risos)
CRONOLOGIA
Organizada por Bianca Zampier, Gabriela Machado e Julia Pombo.
1960
Nasce em Joinville, Santa Catarina. Logo vai para o Rio de Janeiro e lá vive até os 10 anos. Muda-se para Bananal, estado de São Paulo, morando em uma fazenda datada do século XVIII, que possuía afrescos de José Maria Villaronga. Cresce acompanhando os processos de manutenção e restauração dos afrescos e passa a frequentar aulas de pintura.
1978
Segue para o Rio de Janeiro para cursar a faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Santa Úrsula e, neste período, participa de projetos de restauração na Fundação Roberto Marinho.
1984
Conclui a faculdade e inicia atividade como arquiteta.
1986
Ingressa na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, para fazer cursos de pintura, desenho, ateliê livre, aprofundamento, gravura em metal, litografia e diversos cursos teóricos, convivendo com outros artistas de sua geração. Permanece estudando na escola até 1993.
1987
Realiza sua primeira exposição individual, Pinturas, na Galeria Contemporânea, da marchand Dora Basílio, no Rio de Janeiro.
1988
Viaja para Europa por um período de um mês e em Paris se aprofunda no acervo de pinturas do Louvre. Realiza a individual Pinturas na Casa de Cultura Laura Alvim, Rio de Janeiro. Participa do I Salão de Inverno da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, onde apresenta seus primeiros trabalhos de gravura em metal impressos sobre lençóis.
1989
Participa das exposições coletivas Lithogravuras, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde mostra sua produção de um período de dois anos de trabalho no ateliê de gravura da escola. Também integra a mostra Novíssimos, no Instituto Brasil Estados Unidos (IBEU), no Rio de Janeiro.
1990
Integra as coletivas Atelier Matriz, no Museu do Ingá, Niterói; Gravuras, na Casa França-Brasil, Rio de Janeiro; Novos Novos, na Galeria Centro Empresarial, Rio de Janeiro; exposição coletiva do Projeto Macunaíma, Funarte, na Galeria Sérgio Milliet, Rio de Janeiro; e 22º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, no Museu de Arte de Belo Horizonte.
1991
Participa das mostras coletivas Gravuras, Mostra Prêmio Marc Berkowitz, na Galeria Contemporânea, Rio de Janeiro. Integra o 16º Salão de Ribeirão Preto, recebendo menção especial do júri, e também participa do 48º Salão Paranaense e da 9ª Bienal de Desenho, ambos no Museu de Arte Contemporânea de Curitiba.
1992
Frequenta cursos de estética e história da arte, ministrados pelo crítico de arte e curador Ronaldo Brito, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), até 1998. Neste ano participa novamente do Projeto Macunaíma, primeiramente integrando a mostra coletiva, e depois realizando uma individual na Galeria Macunaíma, Funarte, Rio de Janeiro. Participa do 49º Salão Paranaense de Arte, no Museu de Arte Contemporânea de Curitiba.
Neste período o crítico de arte Reynaldo Roels Jr. escreve sobre o trabalho da artista: “O trabalho de Gabriela tem início com o gesto, marcando no papel um percurso súbito e imediato. Não instintivo, mas consciente a despeito de automatizado. Não se esgota nisto, porém: este é apenas o início do processo, com que apenas parcialmente precisamos tomar contato. Aí é que começa a obra propriamente dita, na qual o desenho exerce apenas o papel de matéria primeira do raciocínio. A partir daí, o que interessa são os desdobramentos serializados que ela desenvolve.”
1993
Participa do Programa Anual de Exposições no Centro Cultural São Paulo, integrando a coletiva e posteriormente realizando uma individual, quando mostra pela primeira vez as pinturas feitas com café. Também expõe nas coletivas Poética do Material, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro; Projeto Exposições Temporárias, no Museu da Gravura, Solar do Barão, Curitiba; e Projeto Republicar, no Museu da República, Rio de Janeiro. Seu trabalho integra o 13º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, recebendo o prêmio de aquisição. Também recebe o prêmio de participação do 17º Salão Carioca, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Nesta ocasião, Gabriela é apresentada ao curador da mostra Ronaldo Brito, que escolhe as pinturas em café para integrar a exposição, fazendo menção de sua semelhança com as pinturas de florestas do artista Lasar Segall. Deste então, Ronaldo Brito torna-se importante interlocutor crítico da obra de Gabriela.
1994
Integra as exposições Impressões Cariocas, na Galeria de Arte Universidade Federal Fluminense, em Niterói, e Coletiva 8, no Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Participa do 1º Salão da Bahia de Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador; 14º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro; 18º Salão Carioca, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no qual recebe o prêmio de participação; e 1ª Bienal Nacional da Gravura, em São José dos Campos.
Nesses primeiros anos da década de 1990, Gabriela dedica-se especialmente à produção de gravura. A partir da prática do desenho, entra nas oficinas de gravura do Parque Lage e passa vários anos trabalhando no contexto dos processos manuais relacionados a essa técnica. Nessa vivência da prática do fazer, encontra-se a principal característica de seu processo criativo até hoje.
1995
Neste ano, inicia grupo de estudos e participa de aulas ministradas por Paulo Venancio Filho (Da Antiguidade à Idade Média) e Paulo Sérgio Duarte (Arte e Ciência, do Século XV ao XIX).
Realiza a exposição Limites da Pintura com o artista Carlos Vergara, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro, com curadoria de Paulo Sérgio Duarte e Cristina Burlamaqui. No texto “Limites da pintura”, Paulo Sérgio Duarte escreve: “Nesta exposição de Gabriela Machado e Carlos Vergara estamos diante de duas experiências que guardam entre si fortes oposições e, ao mesmo tempo, pontos de encontro. É preciso que se saiba logo: há a diferença do tempo, da história mesmo, dessas duas experiências enquanto trabalho acumulado. […] O delicado aparecimento das impressões em pó de café nas telas de Gabriela é o rastro de um desenho que faz um contraste radical com o mundo da precisão e sua ideologia da certeza.” Esta mostra propõe diálogo entre dois artistas trabalhando com técnicas que levam a pintura a determinadas fronteiras: as obras feitas com café de Gabriela Machado e as monotipias de Carlos Vergara.
Participa das coletivas Impressões Cariocas, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com Ana Miguel, Anna Bella Geiger, Oswaldo Goeldi e outros; Coletiva 9, no Solar Grandjean de Montigny/PUC-Rio; 11ª Bienal da Gravura de Curitiba – Mostra América, no Museu Guido Viaro, Mostra Brasil, Curitiba, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Ivo Mesquita; e do 52º Salão Paranaense de Arte, no Museu de Arte Contemporânea, Curitiba.
Integra o projeto Novos Talentos, que consiste em 24 artistas brasileiros selecionados por uma banca de curadores para expor o trabalho no Gabinete do Presidente da República, em Brasília. Porém, pelos acontecimentos políticos da época, o projeto não é concluído.
1996
Apresenta exposição individual no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro.
Integra as exposições coletivas B.A.T. (Bon à Tirer), na Casa do Brasil, Madri; Influência Poética, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, e no Palácio das Artes, Belo Horizonte; 3º Salão da Bahia, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador; e 15º Salão Arte Pará, no Palácio Lauro Sodré, Fundação Rômulo Maiorana, Belém.
1997
Viaja ao Oriente, onde visita templos budistas. A partir de então, seus desenhos passam a ser um resultado do entendimento de uma cultura que privilegia o espaço através do silêncio. Um texto de Robert Morgan chamado “Passagens”, feito para sua exposição na Neuhoff Gallery em 2003, comenta esta influência: “Em seus trabalhos existe uma fundamental atitude de tranquilidade, relaxamento; uma serena expectativa no instante de concepção de suas pinturas. Gabriela Machado estuda a superfície do momento, imagina a brancura, antes de se envolver e se relacionar com ela. O gesto é uma progressão linear do pensamento ou, em outras palavras, ele é o esvaziamento da mente, assim como é adotado em algumas formas de meditação Budista.
Existe um termo no Zen-Budismo chamado MU ou ausência do nada; neste estado meditativo, a mente abandona a si própria, distanciando-se de todas as tarefas mundanas. Deste modo, o corpo e a mente fundem-se como uma única forma. O gesto da mão envolvendo o pincel esvazia-se de si mesmo e de todos os pensamentos mundanos.”
Realiza exposição individual, e cria um múltiplo, no projeto Os Amigos da Gravura, no Museu Chácara do Céu/Fundação Castro Maya, Rio de Janeiro, idealizado por Raymundo de Castro Maya, criado em 1948 e retomado em 1992, mantendo o espírito de seu idealizador – um grande entusiasta da democratização e popularização da arte, que considerava a gravura uma peça fundamental a serviço da comunicação pela imagem. Também realiza individual na Valu Oria Galeria de Arte, em São Paulo.
Participa das coletivas Novas Aquisições – Coleção Gilberto Chateaubriand, no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; Brasil – Reflexão 97 – A Arte Contemporânea da Gravura, na Fundação Cultural de Curitiba; Sculpture Urbaine, projeto do Laboratoire Sculpture Urbaine, Grenoble, França, projeção exibida no Pacaembu, em São Paulo; 25º Salão Nacional de Artes de Belo Horizonte, no Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte; e 6ª Bienal de Santos, Centro Cultural Patrícia Galvão, na qual recebe o prêmio aquisição com suas pinturas.
1998
Realiza a individual Gabriela Machado: Desenhos, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, mostrando no espaço da Sala 13 de Maio desenhos de grande escala feitos em nanquim. Na ocasião da exposição, lança livro sobre os desenhos, com texto de Ronaldo Brito, chamado “Sopro de corpo”, em que o autor escreve: “Para cumprir o seu problemático destino contemporâneo, as naturezas-mortas de Gabriela Machado abolem a convenção básica do gênero – a cena em perspectiva – em favor de uma solução planar, pós-cubista, que lhes garante uma presença por assim dizer ‘direta’ na superfície do mundo. O que não deixa de produzir, a meu ver, um efeito de estranhamento. Diante de qualquer natureza-morta, automaticamente procuramos ajustar-nos ao ponto de vista do pintor frente a seu campo de projeção. Ora, a ausência de plano projetivo distingue esses enormes desenhos planares. Ainda assim, nossa primeira reação, e mesmo a segunda e a terceira, é buscar a visada correta, a distância adequada para contemplar uma cena já agora inexistente.”
Participa do 6º Salão Nacional Victor Meirelles, no Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, no qual recebe o prêmio aquisição, e também do 16º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro. Participa ainda- de Os Colecionadores – Guita e José Mindlin: Matrizes e Gravuras, na Galeria de Arte do SESI, São Paulo.
1999
Viaja para Bergen, Noruega, para a exposição Calming The Clouds, e visita os fiordes. A verticalidade das formas geográficas causa grande impacto em sua pintura. Logo após a viagem, Gabriela dá início a uma série de pinturas em que o cerne é o entendimento do espaço vertical, das formas suspensas e sua relação com o entorno.
Integra as exposições coletivas Rio Gravura – na Coleção Guita e José Mindlin; e Rio Gravura – na Coleção Mônica e George Kornis, ambas no Espaço Cultural dos Correios, Rio de Janeiro; Rio Gravura – no Plano Marcado, Centro Cultural Candido Mendes, Rio de Janeiro; Desenho Contemporâneo – 4 Artistas Brasileiros, no Centro Cultural São Paulo e Caelum Gallery, Nova York, EUA, com Elizabeth Jobim, Fernando Junqueira e Neno del Castillo, texto de Rodrigo Naves; Calming The Clouds, com curadoria de Mallin Barth, no Stiftelsen 3,14, Bergen, Noruega; Projeto Fachadas Imaginárias, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo; e 5º Salão da Bahia, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador.
2000
Participa da coletiva Desenho Contemporâneo – 4 Artistas Brasileiros, com Elizabeth Jobim, Fernanda Junqueira e Neno del Castillo no Paço Imperial, Rio de Janeiro. A exposição conta com texto de Rodrigo Naves, no qual o autor escreve: “O que está longe de ser um problema para Gabriela Machado, já que ela lida com as linhas como se as pendurasse, ou emaranhasse, tanto faz, na medida em que nada garante sua adesão ou unidade. Se nas margens elas aparecem solitárias, logo se veem forçadas a se agrupar, a criar nódulos que as fundem umas nas outras, como uma doença que as atacasse. Sua justificativa não vai além do intricado da trama e se perdermos sua pista, como quem perde um rastro, tanto melhor, pois não tinham rumo nem testavam atalhos. E no entanto elas marcam o caminho por que passam. Por mais que confundam, elas sabem que cada qual pouco soma às outras, carecem de identidade, ainda que um excesso de identidade sempre as ameace. São leves, não têm compromissos, e mesmo assim tendem para baixo. Nem um por todos nem todos por um. São linhas, mas poderiam ser correias, embora jamais conseguissem pôr coisa alguma em movimento.”
Além disso, seu trabalho integra a mostra Gestural Works on Paper, na Neuhoff Gallery, Nova York, EUA, com Elizabeth Jobim e Daniel Feingold, e curadoria de Claudia Calirman.
2001
Participa das exposições coletivas Rio de Janeiro/Barcelona, na Casa Elizalde, Barcelona, Espanha, com Analu Cunha, Marcos André e outros; The Heart of Art, na Neuhoff Gallery, Nova York, EUA; e Traço Contemporâneo, com Elizabeth Jobim, Nydia Negromonte e Roberto Betônico, no Centro Universitário de Barra Mansa (UBM), com curadoria de Ronaldo Auad.
2002
Realiza, no Centro Cultural do Banco do Brasil, a exposição Gabriela Machado, com curadoria de Paulo Venancio, em que mostra seus desenhos vermelhos de grande escala, além de uma instalação na rotunda do prédio chamada A sala dos fios. Neste momento, Gabriela pôde vivenciar de fato seus desenhos como espaço pictórico, inseridos em escala pública.
Além disso, realiza uma exposição individual na H.A.P. Galeria, Rio de Janeiro.
Participa de projeto de exposições do Centro Universitário Maria Antonia (USP), São Paulo, no qual acontecem quatro exposições individuais simultaneamente, com curadoria de Lorenzo Mammi.
Participa das coletivas Exposição do Acervo do Centro Cultural Candido Mendes, Rio de Janeiro; San Francisco International Art Exposition, na Neuhoff Gallery, Nova York, EUA; Projeto Rumos, Itaú Cultural Artes Visuais, no Palácio das Artes, Belo Horizonte; Os Gêneros da Arte: A Natureza-Morta na Arte Contemporânea, com curadoria de Ricardo Resende, no Espaço MAM Higienópolis, São Paulo; e The Gesture, Movement in Painting and Sculpture, com curadoria de Robert C. Morgan, junto aos artistas Cy Twombly, Bernar Venet, Robert Motherwell, Franz Kline, Joan Mitchell, Mark di Suvero e outros na Neuhoff Gallery, Nova York, EUA.
2003
Realiza a individual Red Suspended, na Neuhoff Gallery, Nova York, onde faz a instalação A sala dos fios, pensada para o espaço da galeria.
Participa das exposições coletivas Pausa, no Museu de Arte do Espírito Santo (MAES), Vitória, com curadoria de Fabricio Coradello; e In the Realm of the Absurd, na Gallery of Contemporary Art, Sacred Heart University, Fairfield, Califórnia.
2005
Realiza a individual Pinturas, na H.A.P. Galeria, Rio de Janeiro, com o texto “Doida disciplina”, de Ronaldo Brito, onde o crítico diz: “Parte de sua surpresa estética deriva do fato inesperado de reagirem com tanta vontade, tanta intensidade, a seus motivos gastos e banais, em princípio fadados historicamente a desaparecer. Como pintar significativamente, hoje em dia, flores e frutas? Já disse, contudo, um poeta (E. E. Cummings), sempre é a bela resposta que faz a mais bela pergunta. E a resposta, no caso, desarma pela simplicidade: transfigurando flores e frutas em matéria pictórica contemporânea.” Nesta exposição, Gabriela mostra suas pequenas pinturas com referências às suas naturezas-mortas.
Participa das exposições Referências Fotográficas, na Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, com curadoria de Cristina Burlamaqui; Arte Pará, com curadoria de Paulo Herkenhoff, na Fundação Rômulo Maiorana, Belém; e Educação, Olha!, na Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro.
2006
Realiza a individual Pinturas, na Galeria Virgílio, São Paulo, com texto de Alberto Tassinari. Além disso, faz mostra, juntamente com Angelo Venosa, na Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte.
Participa das exposições coletivas: Os Amigos da Gravura, Circuito SESC Rio, nos Museus Castro Maya, Rio de Janeiro; Paisagem Bruta, com curadoria de Luiz Camillo Osorio, na Galeria Virgílio, São Paulo; Arquivo Geral, com curadoria de Paulo Venancio, Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro; e MAM na OCA, com curadoria de Tadeu Chiarelli, Felipe Chaimovich e Cauê Alves, Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, São Paulo.
É convidada a criar o cenário A sala dos fios para o desfile da estilista Isabela Capeto realizado na São Paulo Fashion Week, no pavilhão da Bienal.
2007
Realiza mostra juntamente com José Spaniol no Largo das Artes, com organização da H.A.P. Galeria, e curadoria de Martha Pagy e Miguel Sayad. Realiza, também, uma mostra com Renata Tassinari, na Galeria Matias Brotas, Vitória.
Participa das exposições 30 Anos do Centro Cultural Candido Mendes, com curadoria de Paulo Sérgio Duarte, Galeria do Convento, Rio de Janeiro; e A Gravura Brasileira na Coleção Mônica e George Kornis, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro.
2008
Realiza exposição individual na Galeria 3+1, em Lisboa, e na ocasião lança o livro Gabriela Machado, da coleção Dardo Tu, a convite de David Barro, pela Editora Dardo (Santiago de Compostela, Espanha), contendo textos críticos de David Barro, Ronaldo Brito e Alberto Tassinari, além de imagens de diferentes fases de sua carreira.
Participa da exposição Arquivo Geral, com curadoria de Fernando Cocchiarale, no Centro Cultural da Justiça Federal, Rio de Janeiro.
Participa também do 1º Leilão Azulejos para Arte, nos Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
2009
Entra para a escola de percussão Maracatu Brasil e também para a Escola Portátil de Música, assistindo a aulas de pandeiro.
Realiza a exposição Doida Disciplina, nas instituições da Caixa Cultural do Rio de Janeiro e de São Paulo. A mostra tem curadoria do crítico Ronaldo Brito e é acompanhada do catálogo com texto do curador e fotografias da produção recente de Gabriela. Ronaldo inicia seu texto chamando atenção para o vigor das pinturas da artista: “A força de atração imediata dessas telas, muito pequenas ou muito grandes, vem da ação espontânea de uma tinta que parece surgir do nada para revigorar nosso pálido ou ácido cotidiano. Cada uma delas é a prova viva de que ainda vale a pena olharmos com curiosidade as coisas ao redor.”
É convidada a participar do Projeto Acervo, idealizado e organizado pelo artista Leonardo Videla. Nesta edição, o projeto acontece no Bar do Mineiro, em Santa Teresa, Rio de Janeiro, e tem a participação, entre outros, dos artistas Beth Jobim, Alexandre Vogler, Raul Mourão e Gisele Camargo.
Seu trabalho também integra as mostras coletivas Estética Solidária, com curadoria de Paulo Reis, no Palácio do Marquês, Lisboa, Portugal; Desenhos, na Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte; Coletiva 6 x 6 Novas Aquisições, Prêmio Funarte Marcantonio Vilaça, ECCO, Brasília; e The Line is a Sign, na Latin Collector Gallery, Nova York, EUA.
2010
Inaugura a exposição individual Alindina, Alecrim e Doralina, na Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro. Posteriormente, realiza exposição com o mesmo título para a Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte, sendo acrescida a participação de desenhos e de um vídeo-registro dirigido por Nani Escobar. O vídeo mostra o ambiente de trabalho e a relação que Gabriela tem com o seu processo de produção, evidenciando a poética da artista a partir de suas relações com o espaço. Essa é também a primeira exposição na qual o universo da música entra nos trabalhos de Gabriela.
Participa das exposições coletivas Arquivo Geral, com curadoria de Beatriz Lemos e Marisa Flórido, no Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro; Geometric Illusion, na Frederic Seve Art Gallery, Nova York; e Arte Brasileira: Além do Sistema, junto a Tunga, Véio, Elizabeth Jobim e outros, com curadoria de Paulo Sérgio Duarte, na Galeria Estação, São Paulo. Na mostra coletiva Coisário Cassino Museu, no Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, exibe as duas obras doadas ao Museu da Pampulha por mérito do Prêmio Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas, recebido em 2009.
2011
Ganhadora do Prêmio Mostras de Artista no Exterior, do Programa Brasil Arte Contemporânea da Fundação Bienal de São Paulo (recebido em 2010), realiza viagem a Lisboa para uma residência artística na instituição Carpe Diem Arte e Pesquisa. Durante sua estadia, fixa ateliê em uma das salas e expõe cinco desenhos de grande formato na mostra Os Jardins de Lisboa em Gabriela Machado. Além disso, lança uma edição de múltiplos no Espaço Múltiplo | Carpe Diem, espaço dedicado à produção de edições limitadas dos artistas que integram a programação da instituição. Os Múltiplos – Carpe Diem Editions tornam-se uma materialização tangível da exposição, dando continuidade a uma narrativa que se quer intemporal.
Neste ano, durante a residência em Lisboa, Gabriela inicia uma prática constante com a fotografia Polaroid. Criando uma relação de diário, o corte, a luz e as cores das fotos passam a ser cenas de suas pinturas, dadas em outra escala.
Em agosto do mesmo ano, inaugura a exposição individual Cadência, na Galeria Moura Marsiaj, São Paulo. Participa da oficina de produção de gravuras com John Armstrong a convite da Squire, Sanders & Dempsey, sob curadoria de Ted Decker, em Phoenix, Arizona, EUA. Durante essa viagem, Gabriela encontra-se com as primeiras formas que vão, futuramente, influenciar sua produção de esculturas. A este respeito, a artista comenta: “Na estrada para conhecer o Grand Canyon, pude observar a presença de muitos cactos gigantes. Eram pontos decisivos de marcação na escala de paisagem, foi dali que comecei a perceber o espaço da escultura.”
Participa da II Mostra do Programa Anual de Exposições, do Centro Cultural São Paulo, como artista convidada pelo curador José Augusto Ribeiro e a curadora associada Fernanda Lopes, com texto de Frederico Coelho, realizando exposição individual com desenhos e pinturas. Integra também a coletiva Passante no Mundo, com curadoria de Paulo Reis, na Quase Galeria, Porto, Portugal.
2012
A exposição Cadência é montada no Paço Imperial, Rio de Janeiro, onde a artista ocupa três grandes salas com pinturas e desenhos realizados entre 2011 e 2012 e um vídeo editado por Nani Escobar, no qual imagens do cotidiano vivido trazem à tona a origem da poética da artista. Além disso, nas paredes das salas, encontram-se poemas da escritora e poeta portuguesa Matilde Campilho, feitos a partir das pinturas de Gabriela. É de sua autoria, também, o texto de entrada da exposição: “Uma poética que é um percurso, mas um percurso sem ordem. A ordem, a existir, ela se acha no traço. Aqui não se procura o tempo explícito, antes se procura uma intemporalidade da coloração mágica. Mata Atlântica, jardins europeus, planícies estendidas de cactos: tudo resumido num gesto humano. Ou como alguém falou um dia, os corações dos Homens cabem nestas telas gigantes. O trabalho de Gabriela Machado é uma forma pura de dizer o namoro entre gente e natureza. Entre o sangue e a água, entre a linha de um braço e a linha desenhada. Esta é uma pintura de nascimento eterno, da constante renovação. Estas são as cores fortes, brutas, firmes, suaves e compostas. Tudo um corpo muito natural, dentro e fora das paredes do museu. Isto é a expressão da dança, e a dança é tudo aquilo que respira e canta. Nestas paredes está o jardim do mundo.”
No mesmo ano, parte da exposição Cadência é mostrada na Galeria Bolsa de Arte de Porto Alegre.
Participa das exposições coletivas Chamo Silêncio à Linguagem-que-já-não-é-
-órgão-de-nada, com curadoria de Maria de Fátima Lambert, na Quase Galeria, Porto, Portugal; O Colecionador de Sonhos, com curadoria de Agnaldo Farias, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; e Coletiva Coleção BGA – Brazil Golden Art, no Museu Brasileiro de Escultura, São Paulo.
A mostra Arquivo Aberto: Sérgio Porto 1983-1997, com curadoria de Marta Mestre, no Espaço Sérgio Porto, Rio de Janeiro, reúne registros documentais (impressos, fotografias e vídeos) do centro cultural, e procura mostrar um modo de funcionamento dos objetos enquanto arquivo da instituição. Tenta dar conta da questão através da “memória individual” dos artistas, curadores e fotógrafos que intervieram no espaço. A exposição inclui artistas como Ana Linnemann, Antonio Manuel, Carla Guagliardi, Analu Cunha, Rosana Palazyan e Waltercio Caldas.
Nesse ano, Gabriela frequenta o ateliê da artista e ceramista Dora Wainer, onde inicia seus trabalhos em escultura.
2013
Viaja para a Patagônia e conhece os glaciais. Ao retornar, insere os singulares tons azuis da região em sua série de pequenas pinturas chamada Histórias que eu quero contar.
Realiza na Galeria 3+1, em Lisboa, a exposição Rever, mostrando ao público pela primeira vez seus trabalhos em escultura. Também faz o trabalho A gente não vê quando o vento se acaba (para João Guimarães Rosa), com curadoria de Alberto Saraiva, para o Projeto Technô, no Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro. O título é inspirado em um trecho do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e o trabalho mostra uma sequência de fotos tiradas de um mesmo varal de roupas durante diferentes horas do dia, evidenciando a percepção de como as formas são mutáveis de acordo com o momento em que estão sendo observadas. A mostra Histórias que Eu Quero Contar, com texto de Marcelo Campos, é exibida no anexo da Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro, simultânea à exposição do artista Barrão no outro espaço da galeria.
Participa das exposições coletivas Aproximações Contemporâneas, na Galeria Roberto Alban, Salvador, com curadoria de Afonso Costa e texto de Paulo Venancio, com Raul Mourão, Paulo Whitaker, entre outros; Do Barroco para o Barroco: Onde Está a Arte Contemporânea?, com curadoria de Lourenço Egreja e Fatima Lambert, Casa de La Parra, Santiago de Compostela, Espanha.
2014
Em decorrência do Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio Edital IPHAN 2013, realiza a exposição Para o Pequeno Lago Verde, no Museu do Açude, Rio de Janeiro, no Projeto Espaços de Exposições Temporárias, em que Gabriela escolhe o pequeno lago de um jardim do museu para instalar suas esculturas, colocando seu trabalho em diálogo direto com o espaço do lago.
Com curadoria de Alberto Saraiva, apresenta o trabalho Caderno, no Oi Futuro Flamengo, para o projeto de arte pública Grande Campo. Com esse projeto, a artista vivencia a transformação de um de seus pequenos desenhos em uma escala pública imensa, tornando-se parte da estrutura urbana.
Também realiza a individual Um Olhar Viajante, na Galeria Marcelo Guarnieri, Ribeirão Preto. Além disso, cria um projeto para a vitrine do Armazém Fidalgo, na Galeria Artur Fidalgo, Rio de Janeiro, expondo pequenas esculturas em porcelana que dialogam entre as referências das cores das pinturas de Giorgio Morandi e o espaço da praça do escultor Alberto Giacometti.
Participa da 17ª Bienal de Cerveira, em Santiago de Compostela, Espanha, e no Museu Guerra Junqueiro, Porto, Portugal; e da coletiva Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio Edital IPHAN 2013, no Paço Imperial, Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano, participa da residência na Fábrica São Bernardo, em Alcobaça, resultando na mostra coletiva Prometheus Fecit: Terra, Água, Mão e Fogo, com curadoria de Maria de Fátima Lambert, no Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, Portugal, com itinerância para o Museu Municipal de Óbidos, em Óbidos, Portugal.
Na mostra Encenações do Quotidiano: Lentidão, Intervalo e Demora, no Edifício AXA, Porto, em homenagem a Cartier Bresson, Gabriela mostra a série de 182 Polaroids feitas entre os anos de 2011 a 2014, com curadoria de Maria de Fátima Lambert. A respeito do trabalho de Gabriela, a curadora escreve: “Usando cartuchos de Polaroids – bem difíceis de encontrar disponibilizados atualmente, a artista fica circunscrita ao ritmo da aparição da imagem […]. Os detalhes, fragmentos ou episódios do que está para ser visto surgirão com a clarividência da apropriação, tornando-os evidenciadores e inéditos. […] Assim, a consciência e acuidade da artista desencadeiam um processo não apenas de fazer fotografia, mas como todo o procedimento é uma certa encenação de um quotidiano que saltou do passado, vivido em controvérsia acarinhada pela demora que este intervalo de tempo que mediou o regresso lhe outorga. Lembrem-se as Polaroids de Andrei Tarkovsky, naquilo que o impulsionou, como sendo a estratégia adequada à sua restituição do Pai na Dacha da infância e locais afins de passado. Aqui, Gabriela viaja num presente inquestionável, no sentido de um patrimônio de exercício fotográfico atualizado. Se essas Polaroids-memórias remetiam para lembranças perdidas num tempo antes, estas imagens da Gabriela Machado reativam a presença-memória-que-de-próxima-será-progressivamente-longe.”
Também nesse ano, depois de quase 3 mil publicações em seu perfil do Instagram, Gabriela é convidada pelos editores e fotógrafos Claudia Jaguaribe, Iatã Cannabrava e Claudi Carreras a publicar o livro Rever, coedição da Editora Madalena e da Editora Terceiro Nome, lançado em novembro na Paris Photo. A respeito do trabalho, o diretor do evento, Julien Frydman, comenta: “Ainda não sabemos qual o legado que as mídias sociais deixarão para a história da fotografia. O que não se pode negar é que a fotografia se transformou de forma irreversível no instante em que o Instagram inaugurou um novo espaço para ela.” Rever é uma compilação da prática fotográfica de Gabriela, com imagens cotidianas que revelam a intimidade da artista com os processos das artes. Demonstra o olhar sensível que habilmente brinca com tons e texturas, construindo uma paleta de cores e uma edição de imagens coerente e plástica. De mãos dadas às suas pinturas, as fotografias funcionam como um diário, embaralhando cenas que buscam uma luz ora dourada, ora rosa ou amarela, sempre pulsante. É um trabalho atemporal, em que a artista reconhece traços pictóricos, trazendo à tona investigações sobre planos bidimensionais, sobre como resolver cenários.
2015
Em viagem para a Escócia, visita Kirkwall, ao norte do país, e conhece o círculo de Brodgar, uma misteriosa formação circular de grandes pedras da Era Neolítica. A disposição das pedras remete a artista à obra de Alberto Giacometti, trazendo um entendimento de uma nova percepção de como as formas podem determinar sua própria escala. Visita também Iona, pequena ilha pertencente ao arquipélago das hébridas da Escócia, onde descobre pequenos seixos de mármore que dão origem ao trabalho Things that fit in my hand. Na mesma ilha, a partir da descoberta dos muros de pedras empilhadas que circundam o local, começa a realizar uma nova série de esculturas.
Lança o livro Rever na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, em evento com bate-papo entre Gabriela, a editora do livro Claudia Jaguaribe e o fotógrafo Wilton Montenegro comentando sobre o processo de construção do livro e sua poética.
Com curadoria de Ligia Canongia, participa da exposição Releituras da Natureza-Morta, na Galeria Carbono, em São Paulo.
Participou, com o livro Rever, da exposição Fotos contam fatos, na Galeria Vermelho, com curadoria de Denise Gadelha.
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VÍDEOS
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